
Há quase um século, o então presidente Washington Luís pronunciou na inauguração da rodovia Rio-Petrópolis a frase que pelas décadas seguintes seria uma espécie de mantra dos seus sucessores: “Governar é construir estradas”.
Poderiam ser estradas de asfalto ou de ferro, mas virou uma espécie de régua para avaliar governos, ainda que a frase devesse ser atualizada para “governar é começar estradas” ou transferi-las para a iniciativa privada por meio de concessões. No terceiro mandato e a um ano de disputar a oitava eleição presidencial, o presidente Lula poderia dizer que governar é facilitar a aquisição da casa própria.
Lula aprendeu nas andanças pelo Brasil que o sonho da casa própria continua mais vivo do que nunca, e que construir moradias ou facilitar a aquisição da residência é uma das bandeiras mais promissoras de qualquer governo. Nesta sexta-feira (10), Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciaram um novo modelo de crédito imobiliário para o país, de olho na classe média.
É possível que o programa venha a ser carimbado como eleitoreiro, mas Lula sabe que esse tipo de crítica não cola com a população em geral. Isentar os salários até R$ 5 mil de Imposto de Renda é eleitoreiro? É, se eleitoreiro for aquilo que dá voto.
A pergunta a ser feita é outra. É justo ou injusto? Ampliar a possibilidade de acesso à casa própria dá votos? Se o programa for bem conduzido, pode render votos, mas sozinho não elege ninguém.
O novo programa mira na classe média, já que para os pobres existem vários programas sob a bandeira do Minha Casa, Minha Vida. O que o governo está propondo agora é ampliar o valor dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. O risco político é o programa esbarrar na falta de recursos, como já esbarra hoje o financiamento imobiliário de um nodo geral, e se transformar em frustração.
Facilitar o acesso ao financiamento de imóveis de valor mais elevado movimenta a construção civil e facilita a compra de moradias de menor valor pelas famílias de renda mais baixa. A maioria das pessoas de classe média que compra um imóvel de maior valor dá o outro de entrada ou coloca no mercado para vender.
A previsão do governo com a mudança da regra é que a Caixa financie mais 80 mil novas moradias até 2026. Foi de olho nessa meta que o governo estancou a sangria dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, uma das principais fontes de sustentação do crédito habitacional, e está tentando aumentar a oferta de dinheiro por parte dos bancos, já que a caderneta de poupança deixou de ser atrativa para quem tem algum dinheiro investido.





