
O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Após mais de 10 anos, o Rio Grande do Sul voltou a ter uma secretária cujo trabalho será dedicado exclusivamente às mulheres. A enfermeira Fábia Richter foi empossada nesta segunda-feira (6) pelo governador Eduardo Leite e assume como titular da Secretaria da Mulher, após cinco meses de articulações entre governo e deputados estaduais para a recriação da estrutura. A delegada Viviane Viegas será a secretária-adjunta.
Fábia será responsável por consolidar as políticas públicas do governo do Estado para as mulheres, com foco no enfrentamento à violência. A nova secretaria vai articular e ampliar ações que já são executadas por diversas pastas, e terá o desafio de prevenir casos de agressão e feminicídio e também estruturar uma rede de acolhimento.
O primeiro passo será estruturar a nova secretaria, que ainda não tem local definido como sede, e-mails e nem CNPJ próprio. Em até 10 dias, a secretária Fábia planeja apresentar um cronograma de ações.
Entre as primeiras medidas, a secretária prevê a assinatura de convênios com municípios para estabelecer centros de referência da mulher em algumas regiões. Além disso, Fábia planeja realizar, em "curtíssimo prazo", um trabalho de conscientização para que a população auxilie a identificar casos de violência doméstica, permitindo uma intervenção rápida e eficaz da secretaria.
— São situações em que a gente sabe que as pessoas não se metem. Em 75% dos feminicídios, não havia boletim de ocorrência ou medida protetiva. De maneira urgente, vamos olhar para cada região do Estado pensando no que temos e o que nos falta para atender a mulher preventivamente, e também o retorno deste abrigo para o convívio social. Isso inclui questões de empreendedorismo, apoio judiciário, social — projeta.
Trabalhar a prevenção
A nova secretária assume o Estado ainda com as sombras do feriadão de Páscoa, em que, em apenas quatro dias, 11 mulheres foram assassinadas. Fábia entende que é preciso fortalecer a prevenção no Estado, o que passa por garantir que a mulher tenha uma rede de acolhimento, compreender as motivações que levam um homem a matar uma mulher e também pela conscientização da sociedade em torno do que a secretária chamou de "patologia social".
— Só vamos evitar o feminicídio, que é o ápice, a pior consequência, se conseguirmos intervir antes. Vamos falar abertamente com a sociedade, pois é um problema de todos. Dissemos para as mulheres que elas podem ser o que elas quiserem, mas não preparamos os homens para isso. Isso causa um adoecimento social, e nós repetimos o ciclo — lamenta.
Fábia teria um ano e dois meses de gestão para enfrentar estes problemas, já que, em janeiro de 2027, haverá troca de gestão para a equipe do governador que for eleito no ano que vem, mas é provável que sai até 4 de abril para concorrer a deputada federal. Por ser ex-prefeita de Cristal, ela planeja um diálogo muito intenso com os municípios e com os diversos segmentos do Estado — e por isso fez questão de que estivessem presentes na sua posse representantes da indústria e do comércio, por exemplo.
— Meu sonho é que nós consigamos introduzir nas escolas atividades que olhem para o futuro, e que possamos criar pelo menos uma proposta para fazer a mudança cultural e enfrentar essa condição transgeracional que é o machismo, que passa de geração em geração.
Quem são
Ex-prefeita de Cristal por dois mandatos, Fábia Richter é considerada por Leite uma escolha estratégica como titular por sua vivência na gestão pública municipal e seu engajamento social. É enfermeira, especialista em Gestão Hospitalar e outros serviços de saúde e mestranda em Recursos Humanos e Gestão do Conhecimento. Também é integrante do He For She da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres.
A adjunta da pasta, delegada de Polícia Viviane Nery Viegas, estava à frente do Departamento de Justiça na Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado. É mestre em Direito Público pela Universidade do Vale do Sinos (Unisinos) e doutoranda em Direito pela Universidade de Salamanca, Espanha.



