
O entusiasmo dos deputados do centrão e da oposição com a derrota imposta ao governo na Câmara nesta quarta-feira (8) tem um forte componente eleitoral. É simpático dizer à população que se votou contra aumento de imposto, ainda que a consequência seja sentida lá adiante por quem depende dos serviços públicos. Simplificando, evita-se o aumento de imposto para as bets e obriga-se o governo a cortar despesas na área social.
As bets são o exemplo extremo, porque a medida provisória não era só isso. Aumentava a contribuição sobre o lucro líquido das empresas e os rendimentos de aplicações em LCA (letras de crédito agrícola) e LCI (letras de crédito imobiliário), por exemplo. Sem esses R$ 20,8 bilhões, o governo será obrigado a cortar gastos, o que seria positivo, não fosse pelo fato de a conta recair sobre os que mais precisam.
Pela lógica, se o Congresso corta uma fonte de renda e aprofunda o rombo fiscal, qual seria a primeira despesa a ser cortada? Emendas parlamentares, ora. Só que isso os deputados e senadores não permitirão, ainda mais no ano eleitoral.
Penduricalhos de servidores públicos que estão no andar de cima? Não em 2026. Até existe essa previsão numa proposta de reforma administrativa em discussão no Congresso, mas não será em 2026 — e talvez não venha a ocorrer nunca, porque mexe com privilégios adquiridos.
O placar e a lista de quem votou contra reforça o que se disse mais cedo nesta coluna: que o presidente Lula não pode se inebriar com as pesquisas de hoje, que mostram recuperação de parte da popularidade perdida. Cortes de gastos que impactem na vida dos mais pobres tendem a se refletir na avaliação de governo e nas intenções de voto nas pesquisas vindouras, prelúdio do voto na urna em outubro de 2026.




