
Houve um tempo, não muito distante, em que a prerrogativa de um deputado ou senador ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) era chamada de "foro privilegiado". A imprensa criticava porque não via sentido em um parlamentar ser julgado pelos ministros do STF em caso de crimes comuns, quando o mais adequado seria a prerrogativa de foro para crimes cometidos no exercício do mandato. Essa discussão vem de uma época em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) era omissa e o Supremo quase sempre absolvia.
Agora que os ministros passam os processos de políticos à frente dos que envolvem ladrões de sabonete, o foro privilegiado virou um incômodo. Esquerda, centro e direita não querem mais a prerrogativa e se uniram para criar redes de proteção que impeçam a prisão de quem é flagrado em deslize ou, como se diz no popular, com a boca na botija.
Essa proposta de emenda à Constituição (PEC) não serve de teste para a votação de um projeto de anistia, porque nem todos que defendem uma medida concordam com a outra, mas dá a medida da disposição de deputados e senadores para alterar a Constituição em causa própria. Há parlamentares francamente contrários ao perdão de Jair Bolsonaro e dos depredadores do 8 de Janeiro que defendem a PEC da Blindagem. Lobo não come lobo, ensina outro dito popular.
A PEC da Blindagem, combinada com outra invenção da bancada do PL na Câmara, altera o conceito de "passar a boiada". Para evitar que o filho Zero Três de Jair Bolsonaro perca o mandato e fique sem renda para viver nos Estados Unidos, inventou-se uma fruta exótica chamada de liderança a distância. Eduardo foi anunciado como líder remoto da minoria. Assim, suas faltas ao plenário deixam de ser injustificadas e ele vai levando o mandato como se não tivesse fugido para os Estados Unidos por medo de ser preso.
Temos, pois, um "líder da minoria" na Câmara vivendo no Texas e conspirando contra o Brasil, enquanto ganha o subsídio de deputado e mantém uma equipe e as verbas de gabinete, tudo pago com o dinheiro dos brasileiros. Entre os que bancam a mordomia do deputado fantasma nos Estados Unidos estão cidadãos e empresas que perderam o emprego ou os clientes por conta do tarifaço de Donald Trump, anunciado com a justificativa de pressionar o Brasil a inocentar Jair Bolsonaro no processo por tentativa de golpe de Estado.

