
Depois de uma sequência de autuações pela Vigilância Sanitária, corremos o risco de mais uma divisão na radicalizada sociedade do Rio Grande do Sul — como se fosse possível deixar de um lado os donos de restaurantes e do outro os consumidores, sem os quais o negócio não existiria. Diante das reclamações de proprietários de estabelecimentos fiscalizados, a prefeitura anunciou uma medida que tem funcionado bem na polícia — o uso de câmeras corporais pelos fiscais.
As câmeras devem ser saudadas pelos donos de estabelecimentos visitados e pelos fiscais, para que não prevaleça a versão distorcida das redes sociais. Ora, o cliente tem o direito de saber se o restaurante que ele frequenta com a família segue as regras sanitárias exigidas de quem trabalha com alimentação. E os fiscais, desnecessário dizer, precisam agir dentro da lei.
Parece óbvio que é direito indiscutível do consumidor ser informado se, no restaurante que ele frequenta, for encontrada carne fora do prazo de validade no refrigerador, ou que na sua loja de estimação os fiscais depararam com fezes de ratos ou pelos de qualquer animal.
Pode ser que o cliente A decida dar um voto de confiança, mas o B e o C têm direito de escolher se querem continuar frequentando o lugar ou trocar por outro que convida para conhecer a cozinha e a despensa.
É dever da vigilância sanitária fechar temporariamente estabelecimentos que não estejam agindo dentro das regras. Isso não tem a ver com liberdade econômica, mas com saúde pública.
Ainda que ninguém tenha adoecido por consumir produtos fora do prazo de validade, higiene é obrigação de quem se aventura no mundo da alimentação — seja restaurante, bar ou as chamadas cozinhas fantasma, que só funcionam para tele-entrega, da mesma forma que os restaurantes e indústrias são obrigados a descartar produtos com prazo de validade vencido.
A orientação do Sindha, o sindicato dos bares, hotéis e restaurantes, é uma só: adotar processos que garantam a qualidade do que é servido. Não vale a desculpa da mão de obra escassa ou despreparada. O próprio Sindha fornece treinamento, porque seus dirigentes sabem que confiança é o maior ativo na relação com o cliente.





