
Tudo é superlativo na Operação Carbono Oculto, deflagrada nesta quinta-feira (28) pela Polícia Federal. Nunca se viu nada com essa magnitude — pelo dinheiro envolvido, pelo número de agentes em ação, pela complexidade das ramificações do PCC no mercado financeiro e na venda de combustíveis em diferentes Estados do Brasil. Por isso, chamou atenção o fato de o Rio Grande do Sul estar fora da operação, quando os vizinhos Paraná e Santa Catarina estão entre os focos da investigação.
Mesmo com o risco de daqui a pouco se descobrir que o PCC está infiltrado em negócios que a Polícia Federal e o Ministério Público ainda não descobriram no Rio Grande do Sul, é possível afirmar que a explicação para o Estado estar fora da Carbono Oculto está na atuação do governo gaúcho em duas áreas: segurança pública e receita estadual.
O secretário da Segurança, Sandro Caron, confirma a primeira hipótese que ocorre a quem fica tentado a ser bairrista: o programa RS Seguro, criado quando o hoje presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, era vice-governador e secretário da Segurança Pública. O RS Seguro é uma política de integração das forças de segurança, com vigilância permanente, trabalho baseado em evidências e enfrentamento ao crime organizado com estratégias inovadoras.
— Destaco também que Rio Grande do Sul vem, há muito tempo, realizando operações de combate à lavagem de dinheiro do crime organizado através da Polícia Civil, da Polícia Federal e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) — complementa Caron, delegado da Polícia Federal e ex-secretário da Segurança no Ceará.
Só isso não seria explicação sem a outra barreira virtual montada antes da ponte do Rio Mampituba: o rigor da Receita Estadual. A secretária da Fazenda, Pricilla Santana explica:
— Diferentemente do Paraná, nós temos processos muito mais estruturados. Temos várias camadas na fiscalização. Somos muito mais conservadores no processo de incentivo de soluções heterodoxas. O fato do Rio Grande não estar sendo afetado é fruto do perfil conservador e muito rigoroso da Receita do Estado. Não raro, nossos contribuintes reclamam que a Receita não facilita em nada, mas a gente precisa fechar a porta para possíveis fraudes.
Pricilla não pode ser chamada de bairrista. Ela não é gaúcha. Veio de Brasília, convidada pelo governador Eduardo Leite, em 2023, e encontrou uma estrutura azeitada, que age na prevenção de fraudes e no combate ao avanço das facções sobre a receita do Estado.



