
O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Depois de percorrer emergências e entrevistar mais de 100 profissionais da linha de frente e pacientes, o vereador Alexandre Bublitz (PT) vai apresentar um diagnóstico da saúde de Porto Alegre, na próxima quarta-feira (9). Pediatra, Bublitz quer mostrar os principais gargalos na rede de atendimento que levam as pessoas a buscarem as emergências.
O parlamentar visitou nove locais diferentes, onde realizou 64 entrevistas com profissionais de saúde, de gestores a enfermeiros, além de ter conversado com cerca de 100 pacientes. No levantamento, Bublitz reuniu dados como tempo de permanência na fila de espera, total de lotação dos espaços e número de profissionais.
A principal defasagem se remete à atenção básica. De acordo com o levantamento, entre 60% e 80% dos pacientes procuram atendimento nos hospitais para problemas que não são considerados graves, e portanto poderiam ser atendidos em postos de saúde.
— O que vemos nas últimas duas décadas foi um tipo de investimento hospitalocêntrico, que foca pouco em promoção de saúde e aplica em metas de atendimento. Discordo que a atenção básica é boa em Porto Alegre, o que tem são indicadores de produção — avalia o parlamentar.
Bublitz entende que é preciso iniciar um trabalho de reeducação da população, e tem a noção de que não será uma realidade alterada de uma hora para outra. Mesmo assim, acredita que o assunto deve ser introduzido na rede escolar, com aulas sobre o tipo de atendimento que é preciso buscar para cada situação e as diferenças entre algumas doenças, como gripes e resfriados.
Outra sugestão para aliviar a disponibilidade de leitos é fazer uma espécie de "contrainternação". A ideia é que pacientes de fora de Porto Alegre, internados com quadros graves, possam retornar ao Interior quando já estiverem em condições de ocupar um quarto ou exigirem menos cuidados.
Além disso, o vereador identificou que há muitos profissionais de saúde que atuam nas emergências com problemas de saúde mental — em algumas emergências, os profissionais afastados por este motivo chegam a 20%.
— Estamos tentando ser propositivos, não é questão de fazer críticas, mas mostrar caminhos. Como vereador, não vou conseguir mudar a realidade da saúde, mas temos projetos principalmente sobre o cuidado com a saúde mental dos trabalhadores e da população, para trazer educação de saúde nas escolas. São coisas pequenas, mas são degraus que vamos avançando — projeta.
Bublitz promete entregar o diagnóstico para os responsáveis pela saúde das três esferas: secretarias municipal e estadual e Ministério da Saúde. Além disso, o vereador quer contar com o apoio dos hospitais da Capital, citando nominalmente Clínicas e Grupo Hospitalar Conceição, além de sindicatos e entidades como o Cremers.