
A última coisa que o presidente Lula aparentava ser nesta sexta-feira (4), no Rio de Janeiro, era um homem acuado pelo Congresso. Usando um uniforme cor de laranja da Petrobras, Lula vestiu o figurino de palanque no discurso diante de operários, mas mirando na repercussão na mídia.
— Não quero nervosismo. Porque eu só tenho um ano e meio de mandato, tem gente pensando que o governo acabou. Mas eles não sabem o que eu estou pensando. Se preparem, porque se acontecer tudo que eu estou pensando, este país vai ter pela primeira vez um presidente eleito quatro vezes.
Mesmo que as pesquisas mostrem o avanço da avaliação negativa do governo, Lula tem uma penca de motivos para não jogar a toalha. O primeiro é que, se disser que não é candidato, aí mesmo é que o governo acaba. Os deputados e senadores querem distância de quem não tem perspectiva de poder e, mesmo quando traem, deixam a porta aberta para voltar se o traído vier a ser vencedor.
O segundo motivo é que Lula não tem um substituto — seja porque ninguém cresce à sua sombra, seja porque o mais preparado para substituí-lo, o ministro Fernando Haddad, foi jogado na fogueira em um ministério que traz mais ônus do que bônus. Se Haddad estivesse na Educação, a história poderia ser diferente, porque o governo tem o que mostrar e Camilo Santana, o ministro, não sabe aproveitar o espaço. Santana é um ministro que não se comunica, diferentemente de Haddad quando esteve naquela cadeira.
Lula tem esperança de conquistar a quarta eleição contando que os indicadores positivos se mantenham até 2026 e apostando na divisão da direita, que hoje tem vários pré-candidatos, entre eles um ex-presidente que está inelegível. O presidente já tem na biografia o feito de ter conquistado três mandatos, mas é um homem vaidoso, que gostaria de encerrar a carreira com mais um período de quatro anos na Presidência, mesmo sabendo que a idade joga contra ele.
No evento da Petrobras, Lula também elogiou o Congresso e minimizou a crise com os presidentes da Câmara e do Senado, por causa da revogação do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Disse que o Congresso aprovou 99% dos projetos que ele encaminhou. Há um certo exagero nesse número, mas é fato que até a reforma tributária deslanchou, o que parecia uma jornada impossível.