
Todas as vezes que alugo um apartamento por temporada, a primeira pergunta que faço ao chegar ao prédio é onde fica a área de descarte do lixo orgânico e dos resíduos recicláveis. Na maioria das vezes, a resposta é que não existe separação ou que os moradores separam, mas o caminhão da prefeitura recolhe e mistura todos os sacos.
Não estou falando apenas de Pernambuco, onde estive nas últimas férias, mas de diferentes cidades do Rio Grande do Sul, a começar por Torres, a nossa praia mais bonita, onde passei o feriado de Páscoa. No edifício havia a separação de lixo, mas vi o caminhão passar e misturar tudo.
Havendo ou não coleta seletiva, separo tudo de forma quase obsessiva. Não consigo conviver com a ideia de que restos de comida e garrafas de água ou vinho possam ter como destino o mesmo aterro sanitário. Tampouco me parece razoável que tudo seja recolhido junto para alguém separar em alguma estação de transbordo.
Não é admissível que, em pleno 2025, ainda tenhamos milhares de cidades que não tratam como essencial o destino do lixo, nem tenham programas de educação da população para as consequências de jogar resíduos na rua. Depois, quando ocorrem os alagamentos porque as bocas de lobo e os encanamentos estão entupidos, a culpa é de Deus, que mandou chuva demais.
Um país em que se considera aceitável que quase 40% da população não tenha água potável e mais de 60% não conte com esgoto tratado, o destino incorreto dos resíduos sólidos completa o combo perfeito para o aumento das doenças que congestionam o sistema de saúde.
Isso é subdesenvolvimento, mesmo que a economia cresça. Também é subdesenvolvimento despejar esgoto cloacal na rede que deveria ser apenas para escoamento da água da chuva, e esse é um flagelo mais comum do que se percebe a olho nu nos arroios fétidos ou nas línguas de esgoto que deságuam no mar.
Mesmo em cidades que têm coleta seletiva, como é o caso de Porto Alegre, falta consciência da população para dar o destino correto a cada tipo de resíduo. Aqui não falo das vilas, carentes de tudo, mas dos bairros de classe média e alta, onde os alecrins dourados acham que não é responsabilidade sua fazer a separação correta.
Se os moradores usam os contêineres de lixo orgânico para despejar garrafas pet e caixas de papelão, é natural que os catadores abram a tampa e entrem para separar o que lhes interessa.
Porto Alegre acabou com os carroceiros que atrapalhavam o trânsito e maltratavam os animais, mas não conseguiu mudar o destino das pessoas que empurram carrinhos carregados de lixo porque não têm outra fonte de renda. A ideia original era que trabalhassem nos centros de separação de resíduos, mas alguma coisa deu errado, e nenhum prefeito conseguiu corrigir.