
O que se viu em Brasília na semana que está terminando indica dias tensos pelos próximos 18 meses, tempo que resta do mandato do presidente Lula. Não apenas pela derrubada do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para determinadas operações, como empréstimos e compras com cartão de crédito no Exterior, mas pelo o que está por vir.
Se o governo confirmar a intenção de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para manter o IOF, aí mesmo é que as relações com a Câmara e o Senado tendem a desandar.
A campanha eleitoral está nas ruas e os deputados e senadores não tentam nem disfarçar que estão preocupados com a própria reeleição. E como o governo Lula vai mal nas pesquisas, mostrar distanciamento do governo é pop. Ser contra aumento de impostos, mais ainda.
Deputados e senadores bradam pelo corte de despesas, cujo aumento proposto pelo governo eles autorizaram, mas não querem nem pensar em reduzir os seus gastos, nem admitem abrir mão das malfadadas emendas parlamentares. Parte da chantagem feita com o governo tem por objetivo pressionar pela liberação de emendas, razão de ser do mandato da maioria. A criação de mais 18 cadeiras na Câmara foi aprovada na mesma semana em que Câmara e Senado votaram às pressas a revogação do aumento do IOF e cobraram corte de despesas.
O governo não se ajuda, é verdade. Insistiu em nomear a deputada Gleisi Hoffmann como interlocutora do Congresso e ela foi humilhada pelo presidente da Câmara Hugo Motta, que pautou a votação do IOF sem sequer dar um telefonema — ou retornar as ligações da ministra. O Congresso derrubou vetos de Lula aos jabutis enxertados na lei que trata da produção de energia solar off-shore (com a instalação dos aerogeradores no mar ou em lagoas), o que resultará em aumento da conta da energia elétrica, mas quem paga o pato é o governo.
A comunicação do governo, que deveria melhorar com a entrada de Sidônio Palmeira, não consegue sequer capitalizar as boas notícias, como a nova redução do desemprego para um dos mais baixos patamares da história. Não consegue transformar em pontos de popularidade o crescimento do PIB, a queda do dólar e a contenção da inflação, três elementos que se tivessem resultado contrário empurrariam o governo para o sétimo círculo do inferno de Dante.
Como é típico desses tempos de simplificações nas redes sociais, o senso comum acha que cortar despesas é acabar com as viagens de Janja ao Exterior, como se isso resolvesse o problema do rombo fiscal. Em rodas de conversa, políticos e empresários defendem cortes no Bolsa Família e em outros programas sociais, mas não querem ouvir falar de redução de benefícios fiscais, próxima briga que o governo terá de enfrentar no Congresso.





