
O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Acusado de liderar um plano de golpe para permanecer no poder após as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro adotou um tom sereno e bem-humorado no depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). Frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro voltou a desconfiar do sistema eleitoral e reafirmou que as medidas discutidas com os chefes das Forças Armadas estavam abrigadas nas "quatro linhas" da Constituição.
No depoimento de mais de duas horas, o ex-presidente respondeu a todas as perguntas de Moraes, do ministro Luiz Fux, do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e de seus advogados.
Questionado sobre as declarações que contestaram a lisura do sistema eleitoral, Bolsonaro disse que defende o voto impresso como "barreira adicional para evitar fraudes" e lembrou que a posição também foi sustentada por outros políticos, como o ex-governador Leonel Brizola — que morreu em 2004 — e Flávio Dino, ex-governador do Maranhão e hoje ministro do STF.
— A questão da desconfiança, suspeição e críticas às urnas não é algo privativo meu — justificou.
De pronto, Moraes lembrou que todas as investigações feitas até hoje não identificaram fraudes nas urnas.
A despeito da seriedade do depoimento, Bolsonaro fez brincadeiras durante a oitiva, inclusive com o próprio Moraes, dizendo que o convidaria para ser seu vice em 2026. Depois, comentou os R$ 18 milhões recebidos de apoiadores via Pix:
— E a gente gasta, ninguém trabalha de graça — riu, olhando para seus advogados.
Em um dos trechos mais relevantes do depoimento, quando foi questionado sobre as reuniões em que teria discutido uma medida de exceção com os comandantes das Forças Armadas, Bolsonaro minimizou o tom das conversas.
— Estudamos possibilidades dentro da Constituição. Em poucas reuniões abandonamos qualquer possibilidade de uma ação constitucional e enfrentamos o ocaso do nosso governo — comentou o ex-presidente, que compareceu à sessão com documentos dentro de um exemplar da Constituição.
Sem ser perguntado, Bolsonaro disse que não compareceu à posse de Lula para passar a faixa presidencial para não se submeter "à maior vaia da historia do Brasil".