
O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Um grupo de sete especialistas no combate ao feminicídio, composto por juízas, psicólogas, advogadas e profissionais de apoio a vítimas, falou sobre os motivos que podem explicar o elevado número de casos registrados este ano no Rio Grande do Sul. Elas participaram da segunda reunião de trabalho da comissão externa da Câmara dos Deputados, criada por parlamentares gaúchas para investigar as mortes de mulheres no Estado.
Reunidas no Centro Cultural da URFGS, as especialistas apontaram três razões principais para a alta nos casos — as deputadas sempre recordam do feriado da Páscoa, em que 10 feminicídios foram registrados no RS:
- A escassez de dados em relação à violência contra a mulher, de estruturas de atendimento às mulheres e de estudos sobre o tema;
- A dificuldade no compartilhamento de dados entre diferentes órgãos competentes;
- A relação do avanço do conservadorismo no mundo com a escalada de violência contra mulheres e a necessidade de informação nas escolas para uma mudança de cultura social que coloca as mulheres em vulnerabilidade.
Para a coordenadora da comissão, deputada Fernanda Melchionna (PSOL), a principal defasagem do Estado atualmente está na falta de estrutura de proteção e de amparo das vítimas de violência doméstica.
— Não é só sobre estrutura, são os feminicídios que não são contabilizados, é a vítima que não sente que vai ser protegida pelo Estado, é o agressor que é liberado, é a tornozeleira eletrônica que não tem na delegacia. Não podemos ficar de braços cruzados vendo uma epidemia escalar no Rio Grande do Sul. Não são números, são histórias, são vidas — destaca Fernanda.
Uma reunião da comissão com o governador Eduardo Leite está marcada para o dia 7 de julho, quando devem ser debatidas medidas de atenção às mulheres. As deputadas planejam cobrar mais recursos do governo do Estado e explicações sobre R$ 4 milhões do governo federal que estariam à disposição para a criação de salas Lilás.
Na quarta-feira (25), às 10h, Leite vai se reunir com parlamentares estaduais para discutir a recriação da Secretaria de Proteção da Mulher. O encontro seria nesta terça.
Participaram da reunião
- Fernanda Melchionna (PSOL-RS), deputada federal e coordenadora da Comissão
- Maria do Rosário (PT-RS), deputada federal e relatora da Comissão
- Lígia Mori Madeira, coordenadora do Núcleo de Estudos em Direitos, Instituições Judiciais e Políticas Públicas e do Observatório da Violência de Gênero: feminicídios, violência doméstica e violência política
- Cristiane Buzatto, juíza da 4ª Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre
- Valeria Calvi, coordenadora do observatório de violências de gênero da UFRGS
- Carmen Campos, professora visitante no Programa de Mestrado em Direito e Justiça Social da Universidade Federal de Rio Grande (Furg).
- Valdete Souto Severo, professora de direito e processo do trabalho na UFRGS, juíza do trabalho da 4ª Região, pesquisadora do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital e membro da Rede Nacional de Pesquisa e Estudos em Direito do Trabalho e Previdência Social
- Rochele Fachinetto, coordenadora do Grupo de Pesquisa Violência e Cidadania - UFRGS/CNPq
- Thais Pereira Siqueira, psicóloga, coordenadora do Centro de Referência para Mulheres em Situação de Violência Patrícia Esber. Integrante do Levante Feminista contra o Feminicídio, Transfeminicídio e Lesbocídio RS e Coordenação do Observatório Lupa Feminista, Suplente de Coordenação da ONG Coletivo Feminino Plural