
Com duas representações encaminhadas ao Ministério Público (uma na esfera estadual, outra na federal) por deputados do PT, o governador Eduardo Leite vai gastar muita saliva dando explicações sobre o documentário Todos Nós Por Todos Nós quando retornar de Nova York nesta sexta-feira (16). Leite e o secretário Caio Tomazeli já explicaram que a produção não teve custo porque tudo foi feito pela equipe da Secretaria de Comunicação.
Como todos recebem salário, os deputados que assinam as representações querem incluir na conta dos gastos que teriam de ser ressarcidos pelas horas dispendidas por todos os que aparecem nos créditos.
No lançamento, o governo gastou R$ 467,8 mil. Isso inclui a exibição do trailer de dois minutos no cinema e a sessão especial para convidados, realizada na Casa de Cultura Mario Quintana. O dinheiro, garante o secretário Tomazeli, não saiu do Fundo de Reconstrução do Rio Grande do Sul, o Funrigs.
Como foi dinheiro do Tesouro, é possível que o Ministério Público Federal decline da competência para tratar do caso. A bancada do PT protocolou na Comissão de Serviços Públicos um requerimento para que Tomazeli seja convocado a dar explicações na Assembleia.
O principal questionamento não é o valor, mas o excesso de exposição da imagem do governador Eduardo Leite, o que é considerado promoção pessoal, proibida pela Constituição. Os autores das ações alegam que Leite feriu o princípio da impessoalidade.
Na ação movida pela bancada do PT consta que Leite ocupa nove minutos e dois segundos dos 42 minutos e 14 segundos de todo o filme, o que dá 21,83% do tempo total. No trailer de dois minutos, Leite ocupa 42 segundos e o vice-governador Gabriel Souza três segundos.
Outro problema do documentário está no título, já que a expressão "todos nós por todos nós" foi usada por Leite na campanha de 2022, em uma camiseta e em pelo menos um programa da propaganda eleitoral. O secretário Caio Tomazeli contesta afirmação da coluna de que foi slogan da campanha:

— Todos nós por todos nós é o slogan do Plano Rio Grande. O slogan do segundo turno foi "O Rio Grande fala mais alto". A frase da campanha era diferente. Era "agora somos todos nós por todos nós".
O "agora somos" consta, de fato, na camiseta com a qual Leite foi votar e saiu em centenas de fotos, mas em letras miúdas, sem qualquer destaque. Já na propaganda de TV a aparecia apenas "Todos nós por todos nós".
O uso dessa frase levou o deputado Paulo Pimenta, autor da representação ao Ministério Público Federal, a protocolar nesta quinta-feira (15) um adendo, reforçando a acusação de autopromoção com fins eleitorais. O mesmo fez Rossetto na representação encaminhada ao Ministério Público Estadual.
Pela manhã, em resposta à jornalista Kelly Matos, que acompanha a missão do Rio Grande do Sul em Nova York, Leite disse que o PT está fazendo oposição, que é o que mais sabe fazer. Garantiu que não foi usado dinheiro da reconstrução e que a iniciativa do documentário foi da Secretaria de Comunicação.