Com tantas crianças precisando de atenção, é inacreditável que os brasileiros estejam perdendo seu tempo com um não-assunto como os bebês reborn. Depois de ter criticado os parlamentares que gastam nosso dinheiro fazendo projetos sobre essa anomalia que não pode nem ser chamada de febre — a dos bonecos hiper-realistas — esta coluna só retoma o tema para sugerir que nós, cidadãos sem mandato, voltemos nossos olhos para os problemas dos bebês de verdade. É verdade que crianças reais não dão cliques nem é possível “monetizar” vídeos de mães na fila do SUS, mas será que vale a pena gastar energia com bonecos que parecem gente?
Nem nossa indignação com a falsa polêmica tem importância. Para cada comentário sobre esses bonecos, quantos você leu no fim de semana sobre a dificuldade de adoção de crianças com mais de seis anos?
Sim, o Ministério Público organizou uma corrida no Centro Esportivo da PUCRS para chamar atenção, mas quem se importa com crianças crescendo em abrigos, sem uma família para chamar de sua?
Se estamos atrás de assuntos relevantes sobre a infância, que tal focar na cobrança aos prefeitos que prometeram na campanha zerar as vagas em creches? Ou discutir as alternativas para que tenham atendimento mais rápido nestes tempos de aumento dos casos de síndrome respiratória aguda grave? Ou no que precisa ser feito para que não sejam vítimas da violência dentro de casa?
No mundo, problemas se multiplicam
As crianças reais são as maiores vítimas das guerras feitas por adultos, seja na Ucrânia ou na Faixa de Gaza, por bombardeios ou por falta de alimento ou remédio. Se crianças de carne e osso não comovem o mundo, só uma doença social pode explicar tanto barulho em torno de bonecos de silicone ou de vinil, popularizados por influenciadores que não separam a realidade da encenação para enganar incautos.
E as crianças desnutridas da África pobre? Por que só aparecem no radar dos médicos sem fronteira, se continuam morrendo de fome e doenças tratáveis?
Pense nisso antes de curtir ou compartilhar essas produções do mundo bizarro que só revelam indigência intelectual.