
A regulamentação da nova política de educação a distância, assinada nesta segunda-feira (19) pelo presidente Lula e pelo ministro da Educação, Camilo Santana, ainda está longe do ideal, mas representa um avanço em relação à farra que se tornou o EAD nos últimos anos.
A rigor, nenhum curso superior poderia ter sido autorizado a funcionar 100% a distância, porque um profissional não se forma apenas pesquisando em livros ou assistindo uma aula em que o mesmo professor fala para mais de 300 alunos ao mesmo tempo. Aprende na convivência com professores e colegas, no intervalo das aulas, na partilha de um cafezinho.
Como tirar na hora aquela dúvida que precisa ser esclarecida para seguir adiante no conteúdo se o professor está, às vezes, a milhares de quilômetros de distância? Como questionar uma afirmação equivocada sem a troca que só o presencial permite?
O MEC já havia restringido as aulas EAD para as licenciaturas, que agora precisam ser presenciais ou semipresenciais. Não se pode imaginar um professor de matemática, física ou biologia formado 100% em modo remoto. A farra dos últimos anos explica muito da queda de qualidade na educação básica e a dificuldade das boas escolas de conseguirem professores para algumas disciplinas da área de ciência exatas.
Os cursos EAD a preço de liquidação se multiplicaram nos últimos anos, com faculdades de outros Estados oferecendo diploma de nível superior sem que futuros professores tenham prática de sala de aula. As comunitárias não conseguem concorrer com instituições criadas para o mundo virtual. Didática na teoria é uma coisa. Na prática, só quem se vê diante de uma turma de crianças e adolescentes consegue entender a importância de uma aula presencial.
Ainda falta um longo caminho para que o Brasil melhore a formação dos seus professores. Universidades comunitárias tiveram de fechar os cursos presenciais por falta de interessados. Nas instituições públicas, mesmo gratuitas, sobram vagas porque faltam alunos dispostos a sair de casa todos os dias para fazer um curso presencial de licenciatura em Química, Física, Matemática ou Biologia.
É disso que se fala quando se faz o alerta para o risco de um apagão de professores, mesmo nas escolas privadas, que pagam um pouco mais.
Quem teria coragem de se tratar com um dentista, médico ou enfermeiro formados a distância, mesmo que em parte do curso? Ou entregar seus animais aos cuidados de um médico veterinário que não teve aulas práticas? Mesmo que só parte desses cursos — e mais Psicologia e Direito — fossem remotos, é indiscutível que a qualidade cai. Agora, terão de ser 100% presenciais, com dois anos para adaptação, nos casos dos que já estão em andamento.
O modelo semipresencial, se devidamente fiscalizado e com a estrutura adequada de recursos materiais e humanos, pode ser um caminho para cursos em que teoria e prática têm pesos semelhantes.
Há cursos que não entraram nesta primeira lista do MEC e que deveriam ter entrado. Arquitetura, por exemplo. E as engenharias. Você contrataria para construir sua casa um arquiteto ou engenheiro civil formados a distância? Ou contrataria um engenheiro químico para a sua empresa sabendo que seu contato com laboratórios é esporádico?
Aliás, a falta de engenheiros é uma preocupação dos reitores das principais universidades do Rio Grande do Sul, porque isso poderá significar, ali adiante, uma trava no desenvolvimento do Estado.