
Quando você pensa que já viu tudo em matéria de imbecilidade legislativa, eis que aparece um deputado do PL de São Paulo para mostrar que o fundo do poço tem um subsolo. O que propõe o gênio chamado Delegado Paulo Bilynskyj? Que as unidades públicas e privadas de saúde sejam proibidas de atender bonecos conhecidos como "bebês reborn".
Sim, senhoras e senhores. Sua Excelência acha que precisa de uma lei para que bonecos de silicone ou vinil, tão perfeitos que parecem um bebê, não tirem o lugar de criancinhas reais na fila do SUS.
A reportagem sobre projetos bizarros de deputados ávidos por deixar sua marca está no excelente Poder360, um portal confiável de informações.
O projeto do deputado paulista diz no seu artigo 1º: "Fica proibido, em todo o território nacional, o atendimento, por profissionais de saúde ou servidores públicos, a bonecos hiper-realistas nas unidades de saúde públicas e privadas, inclusive nas conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS)".
Para que não reste dúvida do que é um bebê reborn, o deputado especifica: "Bonecos hiper-realistas são objetos tridimensionais inanimados representativos de seres humanos confeccionados com aparência anatomicamente similar à de seres humanos, produzidos com materiais sintéticos ou orgânicos, destinados à simulação visual ou sensorial de características físicas humanas, comumente utilizados para fins estéticos, terapêuticos, artísticos ou recreativos".
No artigo 2º esclarece que "para os fins desta Lei, considera-se atendimento qualquer forma de simulação ou prestação de serviços clínicos, de enfermagem, triagem, acolhimento, encaminhamento, prescrição, ou outra conduta técnico-profissional dirigida a objetos inanimados representativos de seres humanos".
Esse tipo de bobagem não deve ir adiante, mas na ânsia de produzir projetos conectados com o surrealismo das redes sociais, os parlamentares perdem o medo de cair no ridículo. Talvez o deputado delegado não saiba que boa parte dos vídeos que fazem sucesso no TikTok com "mães" levando seus bonecos ao hospital ou sentando nas poltronas de ônibus ou metrô destinadas a mulheres com crianças são feitos por influenciadoras digitais tentando ganhar dinheiro. Ou "monetizar", na linguagem de quem vive de "views" e "clicks".
Dias atrás, o Timeline da Rádio Gaúcha ouviu uma dessas influenciadoras, que tem uma coleção de bonecos e admitiu que faz vídeos fakes para ganhar uns trocados. Ela coleciona os tais bebês reborn porque sempre gostou de bonecas. Mas é uma mulher que tem filhos e não uma pessoa com problemas psicológicos, que cria um universo paralelo no qual um boneco de silicone pode ter febre severa ou cólicas que exijam a ida a um pronto-socorro.
Outro deputado citado na reportagem do Poder360 entrou na onda, mas pelo menos tenta enquadrar os aproveitadores que usam bonecas reborn para obter qualquer tipo de vantagem. Esse deputado é Zacharias Calil, do União Brasil de Goiás.
Diz o texto: "Esta Lei estabelece infração administrativa consistente na utilização de boneca do tipo bebê reborn, ou de qualquer objeto ou artifício que simule a presença de criança de colo, com a finalidade de receber ou usufruir dos benefícios, prioridades, atendimentos ou facilidades previstos em lei ou regulamento para bebês de colo e seus responsáveis".
Tentando dar um toque mais sofisticado ao debate — e aparentemente convencida de que o Brasil vive de fato uma epidemia de falsos bebês — a deputada Rosângela Moro (União Brasil-SP), que ficou conhecida por ser esposa do senador Sergio Moro, apresentou seu projeto focado nas "mães" de bebês reborn. O projeto "dispõe sobre diretrizes para o acolhimento psicossocial de pessoas que desenvolvam vínculos afetivos intensos com objetos de representação humana, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS".
Leia os projetos
Do deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP)
Do deputado Zacharias Calil (União Brasil-GO)
Da deputada Rosângela Moro (União Brasil-SP)