
As conversas entre cinema e política nem sempre empolgam o grande público. Depois de longo período de indiferença das plateias em geral, o interesse por títulos com viés político parece ter ganhado novo fôlego. Reflexo, talvez, do acirramento de conflitos ideológicos no mundo e nas redes sociais. Um caldo de cultura propício, quem sabe, para que um filme como Uma Batalha Após a Outra seja recebido com entusiasmo tanto pela crítica quanto por um amplo público – inclusive brasileiro.
Misturando panfleto engajado, thriller de ação e entretenimento pop, o longa dirigido por Paul Thomas Anderson denuncia o ultraconservadorismo nos Estados Unidos, encarnado no personagem de Sean Penn – um coronel com um topete à la Hitler que sonha em ser aceito por uma irmandade supremacista branca e xenófoba, ridiculamente chamada Clube dos Aventureiros do Natal. Já o guerrilheiro aposentado vivido por Leonardo DiCaprio é um idealista anacrônico, que repete velhos slogans revolucionários e passa o dia chapado em casa, assistindo na TV a filmes como o clássico do cinema militante A Batalha de Argel (1966).
Apostar no cruzamento de gêneros cinematográficos parece ser também o caminho adotado por Kleber Mendonça Filho para potencializar seu drama político O Agente Secreto. Ambientado em 1977 no Recife, onde um professor universitário envolve-se com autoridades policiais, dissidentes políticos e figuras marginais, o longa flerta com o thriller e o fantástico, com generosas doses de ironia e absurdo – como é recorrente no cinema do diretor de O Som ao Redor (2012), Aquarius (2016) e Bacurau (2019). Com estreia marcada para 6 de novembro nos cinemas, o filme ganhou os prêmios de melhor direção e ator (Wagner Moura) no Festival de Cannes e foi escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de produção internacional – quem sabe vindo a bisar a vitória na edição passada de Ainda Estou Aqui, outra produção nacional sobre nossos anos de chumbo.
Uma Batalha Após a Outra e O Agente Secreto são exemplos de filmes que nos instigam a questionar tanto a realidade política quanto o cinema de entretenimento, conquistando dessa forma corações e mentes.





