
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Depois da assinatura do cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas, um dos temas mais relevantes, no dia seguinte, é a reconstrução da Faixa de Gaza. O território acumula milhares de edifícios danificados ou totalmente destruídos, com impactos profundos em áreas que vão além da infraestrutura em si, mas impactando também em setores como educação e saúde.
Mas quem se envolveria na reconstrução? Quem pagaria a conta?
Recentemente, o presidente americano, Donald Trump, afirmou que os EUA participarão do processo, mas que a maior parte da responsabilidade pela reconstrução caberia a países do Oriente Médio. Em discurso no parlamento israelense na segunda-feira (13), ele citou também o envolvimento de nações europeias.
Durante o encontro em Sharm el-Sheikh, no Egito, para a assinatura do cessar-fogo, o presidente egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi, afirmou que seu país organizará uma conferência sobre a reconstrução da área.
— O Egito trabalhará com os Estados Unidos, em coordenação com parceiros, nos próximos dias, para estabelecer as bases da reconstrução da Faixa (de Gaza), e temos a intenção de organizar uma conferência sobre recuperação inicial, reconstrução e desenvolvimento — declarou Sisi.
O desafio
A dimensão do desafio é colossal. Dados de julho do Centro de Satélites das Nações Unidas (UNOSAT) apontam que cerca de 193 mil edificações em Gaza foram destruídos ou danificados.
Um relatório divulgado ontem pela ONU, Bando Mundial e pela União Europeia apontou que a reconstrução deverá custar US$ 70 bilhões. O valor é 30% maior que o dado divulgado em fevereiro, que estimou US$ 53 bilhões.
No entanto, na última quarta-feira, o primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Mustafa, afirmou que a cifra pode chegar a US$ 80 bilhões.
Paralelamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que apenas para reconstruir o setor de saúde em Gaza seriam necessários mais de US$ 7 bilhões.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), do final de 2024, indicava que mais de 90% das unidades habitacionais no território foram danificadas ou destruídas. Outro estudo, de outubro de 2024, conduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), estimou que os bombardeios israelenses geraram mais de 50 milhões de toneladas de escombros.
Já o relatório Guerra de Gaza: Impactos socioeconômicos esperados no Estado da Palestina, divulgado pelo PNUD e pela Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA) em outubro de 2024, concluiu que o conflito até então (à época, completava um ano), somado à escalada de violência na Cisjordânia, atrasou o desenvolvimento do Estado da Palestina em cerca de 69 anos.
E o tempo?
Um dado do Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) de janeiro de 2024 revelou que, se a operação militar israelense terminasse naquele instante (ou seja, apenas três meses depois de seu início) e a reconstrução fosse iniciada no dia seguinte, Gaza levaria até o ano de 2092 somente para restaurar os níveis do PIB de 2022, antes do começo do conflito.
Poucos meses depois, em maio, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento afirmou que Gaza precisaria de "aproximadamente 80 anos para restaurar todas as unidades habitacionais destruídas".





