
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Dina Boluarte foi destituída do cargo de presidente do Peru após o Congresso aprovar sua queda em uma sessão histórica na madrugada desta sexta-feira (10). A decisão foi aprovada por unanimidade, depois que os parlamentares convocaram a chefe de Estado para apresentar uma defesa, o que ela não fez, por considerar o processo inconstitucional.
Contudo, a crise que o Peru enfrenta atualmente não é recente. O último presidente a completar o mandato foi Ollanta Humala, em 2016. Desde então, nenhum mandatário peruano conseguiu cumprir integralmente os cinco anos de governo. De 2018 para cá, o país já teve seis presidentes, todos afastados ou renunciantes.
Em 2018, por exemplo, o então presidente Pedro Pablo Kuczynski, eleito em 2016 para suceder Humala, renunciou devido a denúncias envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht. Martín Vizcarra, então vice-presidente, assumiu, mas sofreu impeachment em novembro de 2020, também acusado de corrupção. O presidente do Congresso, Manuel Merino, assumiu, porém renunciou após apenas cinco dias devido a fortes protestos populares.
Em seguida, Francisco Sagasti ocupou o cargo até julho de 2021, quando foi substituído por Pedro Castillo, vencedor de uma eleição apertada contra a direitista Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000). No entanto, em dezembro de 2022, Castillo foi destituído e preso após tentar um autogolpe, e Boluarte, sua vice, assumiu, tornando-se a primeira mulher a ocupar a presidência.
No poder, Boluarte distanciou-se da esquerda, que a acusou de reprimir com violência os protestos contra a destituição de Castillo. Ao mesmo tempo, perdeu apoio da direita e deixou o governo com 93% de reprovação, segundo pesquisa da Datum Internacional. Ela também responde a várias investigações por corrupção e enriquecimento ilícito.
A destituição ocorre em meio a uma escalada de violência urbana e extorsões cometidas por gangues, que se tornaram um dos principais problemas do país. Ainda nesta semana, na quarta-feira (8), a popular banda de cumbia Agua Marina sofreu um ataque a tiros durante um show em Lima. Pelo menos quatro músicos foram baleados, e as autoridades atribuem o atentado a grupos de extorsão.






