
Enquanto, pelo mundo, se fala cada vez mais em cidades-esponja como vacina para amenizar o impacto das enchentes em metrópoles, Porto Alegre cobre uma praça na zona norte com asfalto.
Conforme mostrou o repórter Carlos Rollsing, de ZH, a prefeitura revestiu a Praça José Dornelles Medina, na Vila Ipiranga, com uma espessa camada de asfalto. Foi a solução encontrada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) para resolver um atrito entre moradores de dois condomínios na Avenida Dom Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão e a Feira Mercadão do Produtor, que é realizada todos os domingos. Além disso, para obra, foram "suprimidas", eufemismo para derrubadas, 16 árvores.
O conceito de cidades-esponja propõe uma abordagem inovadora de urbanismo sustentável para lidar com os impactos das enchentes, especialmente em áreas densamente urbanizadas.
A ideia é transformar o tecido urbano de modo que ele funcione como uma esponja, absorvendo, retendo e filtrando a água da chuva, em vez de permitir que ela escorra rapidamente para os sistemas de drenagem e cause inundações. Isso é feito por meio da ampliação de áreas verdes, uso de pavimentos permeáveis, restauração de rios e lagos urbanos, e instalação de jardins de chuva, que reduzem a velocidade do escoamento e permitem a infiltração no solo.
Além de diminuir o volume e a intensidade das inundações, as cidades-esponja promovem benefícios adicionais, como a recarga dos aquíferos subterrâneos, melhoria da qualidade da água e aumento da resiliência climática. Essa estratégia também contribui para a renaturalização dos ambientes urbanos, promovendo espaços públicos mais verdes e saudáveis. Com isso, a lógica muda: em vez de lutar contra a água com canais de concreto e drenagem agressiva, as cidades-esponja aprendem a conviver com a água, incorporando-a de forma inteligente ao planejamento urbano.
O que a prefeitura fez vai na contramão desse conceito — colocando asfalta e dificultando, para não dizer impedindo, que a água seja absorvida pelo solo.
Prefeitura disse que a escolha pelo asfalto ocorreu em razão da durabilidade, resistência, baixa deformação e menor manutenção.
O conceito de cidade-esponja deve ser ampliado. Essa foi uma das principais lições que a missão integrada pelo governo do Estado e a prefeitura tiveram na visita à Holanda, no ano passado, pouco depois da nossa tragédia climática.



