
Há muitas dúvidas sobre o futuro do Oriente Médio:
- Haverá desarmamento do Hamas?
- Como será (e quem pagará a conta) da reconstrução de Gaza?
- Quem governará o território?
Essas são apenas algumas. Os 20 pontos do plano de Donald Trump são fartos em dizer "o que" deve ser feito, mas falha ao não dizer "como" se chegará lá.
Mas, por hoje, 13 de outubro de 2025, fiquemos com a celebração. É dia de esperança, de abraços, de orações: após 738 dias, finalmente, os últimos 20 reféns em poder do grupo terrorista Hamas estão de volta, em casa, em Israel.
Se considerarmos que o conflito foi iniciado pelo massacre do Hamas no trágico 7 de outubro de 2023, que motivou a resposta israelense que devastou Gaza, o dia de hoje pode, sim, ser considerado o final da guerra. Não é o final das disputas entre israelenses e palestinos, mas um capítulo se encerrar.
Sabemos que não há indícios de uma paz duradoura, apenas um cessar-fogo. Mas esse passo é fundamental em uma operação militar que se desvirtuou de seu principal objetivo: "trazer de volta os reféns" para uma "operação de terra arrasada".
Mais do que capitalizar os louros da vitória, espera-se que Trump e os líderes reunidos em Sharm el-Sheikh ao longo do dia aproveitem o momento de júbilo para começar a pensar no futuro.
Alguns países cresceram em relevância como atores no Oriente Médio nessas semanas de negociações — principalmente Catar e Turquia — e terão papel fundamental no futuro de Gaza. Mas o apoio da França e da Alemanha, locomotivas da União Europeia, também é fundamental para equilíbrio de interesses, além de Estados Unidos e Israel.
Nesses 738 dias de guerra, estive duas vezes no Oriente Médio. Uma das cenas que mais me marcou foi, na Praça dos Reféns, onde hoje israelenses celebram o retorno, havia uma mesa posta, com os lugares, um a um, à espera dos reféns. Havia louça, talheres, taças. Tudo pronto para, um dia (se ele chegasse), filhos, irmãos, pais, mães e amigos, voltarem a se sentar para encontros familiares. Esse dia chegou. Mas, infelizmente, muitos dos lugares permanecerão vazios.
No dia de hoje e ao longo da semana, em Israel, enquanto muitos pais abraçarão seus filhos na volta para casa, haverá aqueles que os encontrarão em caixões — ou, mesmo, haverá quem não receberá nada.
Em Gaza, as cenas de montanhas humanas em cima dos caminhões, de pessoas arrancando comida e remédios e transportando, como podem, sacos de alimentos, também são a lembrança de que, na guerra, a população civil, de um lado e de outro, refém de interesses, agendas políticas e vaidades, é a que mais sofre.




