
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Líderes dos países emergentes se reúnem a partir deste domingo (6) no Rio de Janeiro para mais uma Cúpula do Brics. O evento se estende até segunda-feira (7), e entre as principais pautas estão: a cooperação em relação à saúde global, inteligência artificial, comércio, investimento e finanças, desenvolvimento institucional, mudanças climáticas e segurança internacional.
Ainda no início de junho, ocorreu o Fórum Parlamentar do Brics, reunindo representantes de alto escalão dos membros, que já pode direcionar os principais assuntos que seriam debatidos no evento de julho. O professor de Relações Internacionais da PUCRS, João Jung, destaca alguns desses temas:
— A regulação de inteligência artificial, por exemplo, é uma coisa muito importante quando pensamos no Brasil. Ano que vem temos eleições, e hoje em dia com o deepfake, com o avanço da inteligência artificial, como é que ficam as disputas políticas eleitorais? Como que se pode regular isso? Como que isso pode ser regulado em um nível multilateral ou discutido em um fórum como o Brics? — pondera.
Atualmente, o grupo é formado por 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, além de 10 nações parceiras. Atualmente, há a discussão de novos membros e a preocupação com a institucionalização desses nomes. O professor também cita a preocupação com as mudanças climáticas.
— É algo que impacta todos os países, dentro da questão de transição energética, muito importante na China, principalmente, que hoje em dia encabeça discussões em relação a isso, e muito importante para o Brasil, pensando que vamos sediar a COP30 — afirma Jung.
O professor avalia que discussões sobre os conflitos na Europa e no Oriente Médio também estarão entre os assuntos tratados na pauta da segurança internacional, principalmente com o fato de a Rússia e o Irã comporem o grupo.
— De todos os temas, esse talvez é o que o Brasil mais se afaste, menos tenha interesse em discutir, porque é onde ele pisa em ovos para não balancear aquilo que chamaríamos de uma equidistância pragmática que se faz entre esses países orientais, como Rússia e China, que são vistos com desconfiança, e Irã agora também, visto com desconfiança pelo Ocidente, que é um parceiro tradicional e importante para o Brasil.
Protagonismo do Brasil
Até o final de 2025, o Brasil lidera o Brics com compromisso de pautar as discussões e dirigir as reuniões. Jung avalia que, só nessa função, já há um protagonismo formal do Brasil. Além disso, lembra que o país já vem com um "boom" de grandes eventos, como o G20 em novembro do ano passado, agora a Cúpula do Brics e em novembro a COP30.
— O Brasil é um protagonista natural do Brics, é um membro original e que nutre as melhores relações. Rússia e Índia têm algumas rusgas históricas, também Rússia e China, China e Índia, e o Brasil não tem rusgas e é, desde a origem, uma espécie de mediador entre esses países. O Brasil é um país central dentro dos Brics, ainda que não por questões econômicas, como seria a China, nem por questões militares, como seria a Rússia, mas do concerto político-diplomático. E isso será representado nos debates.