
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; do Uruguai, Yamandú Orsi; do Chile, Gabriel Boric; da Colômbia, Gustavo Petro; e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, assinaram neste domingo (20) um artigo conjunto em defesa da democracia. O documento antecipa a reunião que ocorrerá nesta segunda-feira (21) no Chile, com a participação dos cinco líderes.
Intitulado Democracia sempre, o artigo afirma que não cabe o "imobilismo" na sociedade atual e que "em um mundo cada vez mais polarizado, como líderes progressistas temos o dever de agir com convicção e responsabilidade frente àqueles que pretendem enfraquecer a democracia e suas instituições".
Em outro trecho, os líderes destacam que não basta apenas evocar a democracia, mas é necessário "fortalecê-la, renová-la e torná-la significativa".
O documento também convocou a sociedade civil a trabalhar pela manutenção da democracia, afirmando que "a história nos demonstrou repetidamente que a democracia é o melhor caminho possível para garantir a paz e a coesão social, e as oportunidades para todos".
O encontro nesta segunda-feira em Santiago, capital chilena, terá como foco três eixos principais: defesa da democracia e do multilateralismo; combate às desigualdades; e tecnologias digitais e enfrentamento à desinformação.
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Em diferentes partes do mundo, a democracia enfrenta um momento de grandes desafios. A erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diferentes setores políticos e o crescente desinteresse dos cidadãos são sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade. A isso se somam as persistentes desigualdades, o retrocesso nos direitos fundamentais, a disseminação da desinformação e de discursos de ódio em plataformas digitais, e a expansão de redes criminosas que desafiam a legitimidade do Estado.
Diante desse cenário, não cabe o imobilismo nem o medo. Defendemos a esperança. Em um mundo cada vez mais polarizado, como líderes progressistas temos o dever de agir com convicção e responsabilidade frente àqueles que pretendem enfraquecer a democracia e suas instituições. Porque não basta evocar a democracia nem falar em seu nome: devemos fortalecê-la, renová-la e torná-la significativa para aqueles que sentem suas promessas não cumpridas. É com mais democracia que criaremos mais oportunidades para as gerações futuras, e como melhor nos adaptaremos aos desafios globais impostos pela inteligência artificial ou a mudança do clima. Resolver os problemas da democracia com mais democracia, sempre.
Esse é o princípio que convoca os governos do Chile, Brasil, Espanha, Uruguai e Colômbia à Reunião de Alto Nível “Democracia Sempre”, a ser realizada em Santiago no próximo dia 21 de julho.
Esse esforço compartilhado não é apenas a continuação do encontro impulsionado pelos governos do Brasil e da Espanha durante a Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado, mas dá um passo adiante. Porque, longe de ser um gesto isolado ou simbólico, é uma iniciativa que busca defender a democracia como um bem comum.
Sabemos que as democracias não se constroem apenas a partir dos governos. Construir propostas conjuntas e eficazes que fortaleçam a coesão social, a participação cidadã e a confiança nas instituições é um trabalho que não pode se limitar a cartas de boas intenções ou recair apenas sobre os governos de turno e seus representantes. Por isso, essa iniciativa também convoca organizações sociais, centros de pensamento, juventudes e diversos atores da sociedade civil, porque sua participação e ação são fundamentais para que a democracia recupere sua capacidade transformadora.
Sabemos também que defender a democracia exige que sejamos capazes de condenar as derivas autoritárias e, ao mesmo tempo, falar de forma positiva, propondo reformas estruturais para enfrentar a desigualdade em nossos países e no mundo. A história nos demonstrou repetidamente que a democracia é o melhor caminho possível para garantir a paz e a coesão social, e as oportunidades para todos. Impulsionar estratégias comuns em favor do multilateralismo, do desenvolvimento sustentável, da justiça social e dos direitos humanos é um imperativo ético e político. Porque a democracia é frágil se não for cuidada.
Hoje nos reúne a certeza compartilhada da necessidade de melhorar a resposta do Estado às demandas de nossos povos e governar com eficácia, com justiça, com direitos. Com democracia, sempre. E com a convicção de que defender a democracia nestes tempos difíceis não é apenas resistir e proteger, mas propor e seguir avançando. Essa é a tarefa urgente do nosso tempo.




