
A julgar as declarações erráticas de Donald Trump durante a "Guerra dos 12 dias" no Oriente Médio, a essa altura estaríamos vendo um vácuo político no Irã e uma guerra civil no território persa, semelhante ao que testemunhamos no Iraque pós-Saddam Hussein, a partir de 2003. Como se viu nos últimos dias, não é difícil derrubar a ditadura teocrática dos aiatolás - a força aérea do regime ficou no chão durante esse conflito e Israel tinha supremacia aérea nos céus iranianos. O desafio é o que colocar no lugar em Teerã.
Nesses dias insanos, Trump afirmou que matar o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, era uma opção à mesa. Mas quem seria posto em seu lugar?
O regime extremista do Irã foi tão cruel desde a Revolução de 1979, que nenhum grupo organizado da oposição conseguiu emergir. É diferente do Afeganistão, onde a Aliança do Norte cavou trincheiras de resistência aos talibãs que sustentaram Osama bin Laden - e, por anos, sobreviveu nas montanhas do nordeste do país. Quando o regime caiu, havia uma opção aos fanáticos.
No Iraque, a tomada de Bagdá foi avassaladora. Foram apenas 21 dias. Com Saddam deposto e sua guarda pretoriana decapitada, o que se veio depois foi o caos institucional: a destruição da elite militar, massacres entre facções, em meio a ressentimentos e vinganças, o nascimento de um grupo terrorista, o Estado Islâmico, uma administração americana falha e um processo de "state building" (construção do Estado) insuficiente. O Irã sem os aiatolás, por pior que seja, caminharia, facilmente, para um cenário como este. Não havia opção aos extremistas.
Em algum momento, uma mente racional e com o mínimo de conhecimento das idiossincrasias do Oriente Médio deve ter ganho voz na Situation Room da Casa Branca.