
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O conflito entre Israel e Irã, que antes envolvia apenas os dois países, agora toma uma escala de maior grandeza com a participação da maior potência mundial: os Estados Unidos. Não se sabe exatamente se os norte-americanos seguirão com bombardeios ou se os iranianos responderão à altura. A coluna conversou com especialistas sobre o que merece atenção nos próximos passos do conflito.
O professor de Relações Internacionais na UniRitter, João Gabriel Burmann, aponta três questões principais: o Estreito de Ormuz, um possível ataque dos iranianos a bases norte-americanas no Oriente Médio e a estrutura do regime no Irã.
— Talvez não seja um ato com tanto apoio internacional, mas o Estreito de Ormuz é uma carta que o Irã sempre teve ali na manga. E a outra são as bases dos Estados Unidos na região. Isso, obviamente, também traz um outro empecilho para o Irã, que é romper a posição com os aliados. Essa é uma guerra que a Arábia Saudita, que os Emirados, que o Bahrein, que o Catar estão quietos, estão tentando não se envolver. Acho que temos de ficar atentos novamente para a posição de negociação de Estados Unidos e Rússia. Acho que a China dificilmente vai abertamente sair falando sobre o caso, mas acho que temos de tentar prestar atenção, ler nas entrelinhas, ações e cenários. Eventualmente, tem de ficar de olho, inclusive, na questão interna do Irã: como é que fica a correlação de forças entre os aiatolás e uma linha mais dura, porque isso também é uma questão que Israel aposta muito, numa mudança de regime. Não parece ser muito objetivo dos planos dos Estados Unidos atualmente.
O professor de Relações Internacionais da ESPM-SP Roberto Uebel também aposta na atenção que se deve dar ao Estreito de Ormuz, na capacidade bélica do país e na participação de outras potências.
— O Estreito de Ormuz é uma questão crucial agora. Vai definir, sim, o rumo da guerra. Se eles fecharem de fato, está mexendo no impulso do mundo. Uma segunda questão é se o Irã tem uma carta chamada bomba atômica e se vai ter o apoio de Rússia e China. E uma terceira questão é: qual é a capacidade hoje de Israel continuar atacando o Irã? Israel tem mais uma semana de armamento disponível. O Iron Dome já começa a dar sinal de fragilidade, porque ele é muito caro para se manter, precisa parar para poder ser reabastecido. Então, ele tem um limite, não é eterno. E aí, se os Estados Unidos ocupariam esse lugar de Israel na guerra contra o Irã. Uma quarta: o que Omã vai fazer, porque também controla a parte do Estreito de Ormuz. Omã, que é um país árabe, muçulmano, também se colocou para ser um mediador entre Israel e o Irã.
O professor Vitelio Brustolin, especialista em Relações Internacionais e pesquisador de Harvard, também volta seus olhares ao Estreito de Ormuz como o principal prejuízo à economia global.
— Pode ser uma operação que gere algum prejuízo à economia mundial e a guerra continua. O Irã continua bombardeando Israel, o regime do Khamenei continua lá. Nem Israel nem os Estados Unidos disseram que querem derrubar o regime, mas Israel disse que seria um efeito colateral positivo se acontecesse. Trump disse que não mandaria matar o Khamenei por enquanto. Então, se o Irã recuasse imediatamente e capitulasse, eu diria que haveria um grande vencedor, claro, no curto prazo. Mas, ainda no médio e longo prazo, certamente seriam esperadas vinganças em forma de terrorismo, em forma de ataques diversos. Inclusive, foi isso que o Irã anunciou ontem e disse: "Olha, de agora em diante, cidadãos e ativos americanos aqui na região são alvos legítimos claros." Isso é praticamente uma confissão de planejamento de terrorismo, porque você atacar civis para atingir um Estado é, por si só, um ato terrorista. Rússia e China devem se envolver? Bom, diretamente não. Agora, politicamente, diplomaticamente, sim. Inclusive, o Irã está indo conversar com Putin, está indo conversar com a Rússia. As duas podem dar apoio econômico, político ao Irã, possíveis alinhamentos institucionais, dentro do Brics, por exemplo.