
Há aqueles momentos em que a TV serve de amálgama para o espírito de uma nação. É assim na final de uma Copa do Mundo, na apuração de uma eleição, no conclave de um papa. Tem sido assim também nesta semana em que o Brasil acerta as contas com sua história, ao vivo, no julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF).
Tire-se do cenário as fanfarronices do que alguns dizem nos depoimentos. Nesta terça-feira (10), por exemplo, Jair Bolsonaro ironizou o ministro Alexandre de Moraes, convidando-o para ser seu vice em 2026. Fiquemos com o que é sério: pela primeira vez, um ex-presidente, três generais quatro estrelas e um almirante de esquadra sentam-se no banco dos réus no Brasil, um país no qual as Forças Armadas sempre buscaram exercer um poder paralelo, como se tutelassem a República.
Há uma carga simbólica descomunal no que estamos assistindo ao vivo. No país onde as relações cívico-militares, por vezes, se mimetizam, compreender como a tentativa de golpe foi gestada é o primeiro passo para amadurecermos como democracia. Para que compreendamos que política e Forças Armadas não devem se misturar, porque quando a primeira atravessa os portões dos quartéis, leva embora a hierarquia e a disciplina.
A série de oitivas dos réus do chamado "núcleo crucial" diante da Primeira Turma do Supremo é também uma demonstração de que as instituições da República estão plenas e saudáveis, a despeito de investidas como o 8 de janeiro de 2023: sobretudo, são capazes de fazer valer as garantias processuais vigentes em um Estado de Direito que os próprios acusados tentaram erodir.