
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O atentado sofrido pelo senador de direita Miguel Uribe Turbay, político colombiano que foi baleado no sábado (7) e segue internado em estado grave na Fundação Santa Fé de Bogotá, reacendeu a preocupação vivida há pelo menos 50 anos com a violência política na Colômbia.
O país latino convive desde meados dos anos 1960 com a presença de grupos fortemente militarizados que exercem grande influência na política, os mais conhecidos são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), mas há muitos outros. Uribe, o senador baleado, é lembrado por seu feroz discurso contrário aos acordos de paz com esses grupos.
Para o professor do curso de Relações Internacionais da Escola de Humanidades da PUCRS, João Jung, esses dois conceitos estão imbricados na história colombiana: a política e a violência.
— Uma das principais questões, inclusive frente a uma campanha presidencial, é como vai ser lidada a questão da segurança pública em relação aos inúmeros grupos guerrilheiros que existem na Colômbia.
O professor lembra que esse histórico existe há muitos anos, como os casos de Bernardo Jaramillo Ossa e Carlos Pizarro Leongómez, políticos que também foram mortos em atentados. O próprio atual presidente, Gustavo Petro, já pertenceu ao grupo guerrilheiro Movimento 19 de Abril (M-19).
— É importante pensar que essa violência institucionalizada e a violência enquanto forma de expressão política, ela não é uma coisa apenas da Colômbia é algo profundamente enraizado no sul global, profundamente enraizado na América Latina — relembra o professor, citando casos como o Equador, que viveu em 2023 o assassinato do então candidato Fernando Villavicencio, o caso de Jair Bolsonaro no Brasil e de Donald Trump nos Estados Unidos.
Jung destaca que foi durante o governo de Juan Manuel Santos (2010-2018) que se firmou o primeiro acordo de paz com as Farc, o que sempre suscitou diferentes reações no eleitorado colombiano. Contudo, o acordo não se manteve efetivo por muitos anos, e 2024 foi considerado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) como um dos piores anos para a violência na Colômbia.
Para o professor, o discurso mais brando de Petro contra os grupos guerrilheiros pode afetar sua já enfraquecida campanha à reeleição, mas a pauta da violência não é nova para o eleitorado colombiano, e ainda há um longo caminho até as eleições de maio.