
Havia duas interpretações possíveis sobre a resposta do Irã ao ataque americano a suas instalações nucleares, no sábado (21): uma pessimista e outra otimista.
Comecemos pela visão primeira, cujos resultados práticos, independentemente de tudo, foram sentidos. O temor de um conflito em nível regional se confirmou em parte, uma vez que a guerra parecia se estender não apenas a Israel e Irã, mas se ampliando aos ricos emirados do Golfo Pérsico. O Catar, sede da maior base aérea dos EUA no Oriente Médio, Al-Udeid, alvo da ação iraniana na segunda-feira (23), reivindicava o direito de responder. Os mísseis lançados pelo regime dos aiatolás colocaram em pânico a população dos principais centros econômicos da região, como Doha, Abu Dhabi e Dubai. O espaço aéreo foi impactado, com várias companhias aéreas suspendendo voos. O site de monitoramento aéreo FlightRadar exibia sobre o golfo um imenso vazio, com aeronaves desviando da região explosiva.
Essa era a versão pessimista. Felizmente, a perspectiva otimista preponderou. No sábado, os EUA exerceram boa parte do seu poderio militar para atacar, pela primeira vez diretamente, o Irã, com foco nas três centrais nucleares do regime, entre elas Fordow, encravada no meio de uma montanha.
O regime dos fanáticos aiatolás precisava dar uma resposta — não tanto ao mundo, porque, com livre acesso à informação em países democráticos, sabemos bem que o país está isolado, com boa parte de sua força aérea em terra e com a defesa antiaérea neutralizada. A resposta do Irã cabia, principalmente, ao público interno, demonstrar algum nível de dignidade à opinião pública doméstica.
Isso explica por que a ação militar contra a base americana foi telegrafada. O Catar foi avisado — o que, por tabela, significa que os EUA também. E isso explica por que Donald Trump ironizou "a resposta fraca" e agradeceu por ter sido avisado. Também explica por que o petróleo teve forte queda imediatamente após uma ação armada.
Uma análise superficial levaria a acreditar exatamente o contrário. Mas algo já estava no ar. A resposta iraniana trazia implícito dois movimentos: o Irã não interromperia o Estreito de Ormuz, passagem de 30% do fluxo do produto global; segundo, e mais importante, a resposta estava dada (a base americana, onde não havia caças e na qual todo o efetivo humano tinha sido evacuado). A retaliação havia sido cumprida. E pararia ali.
Depois, cumpria-se apenas o ritual: Trump anunciou ao mundo, em sua rede social, um cessar-fogo entre Israel e Irã. Isso significa exatamente a paz pela força, que o presidente americano e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu vêm defendendo. Funcionou. Ao menos, por 12 horas.