
Para entender o ataque de Israel ao Irã é preciso voltar 24 horas no tempo. Um dia antes da ofensiva, que matou seis cientistas do programa nuclear iraniano e dois militares de alto escalão, o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sobrevivera a uma votação na Knesset, que, por pouco, não derrubou seu governo. Dos 120 deputados, 53 apoiaram a dissolução do parlamento, contra 61 que votaram contra. Nos 53, dois parlamentares integram a coalizão de governo. Ou seja, há uma cisão no apoio a Netanyahu.
O pano de fundo é um debate político-militar antigo: desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, os judeus religiosos ultraortodoxos são dispensados de servir nas Forças de Defesa de Israel (FDI). O governo encaminhou um projeto para mudando esse status, estendendo a obrigação a esse público e diante da necessidade de aumentar o efetivo militar em razão dos conflitos atuais.
A medida indignou os partidos ultraortodoxos (Judaísmo Torá e Shás), que conta com 18 membros no parlamento, que apoiam o governo. Os dois que votaram a favor da dissolução da Knesset integram a primeira legenda.
Sem o apoio desse grupo, o governo cai. É isso que quase ocorreu na quinta-feira (12).
Netanyahu é um sobrevivente político - inclusive réu por corrupção. E, como de hábito, sempre que ameaçado, responde com demonstrações de força.
O ataque ao Irã ocorre neste contexto - agrada ao setor mais conservador da opinião pública israelense, que, de forma geral, questiona Netanyahu pelo fato de nunca ter assumido sua porção de responsabilidade pelas falhas de segurança que facilitaram os atentados terroristas de 7 de outubro de 2023.
A suspeita de que o Irã estaria muito perto de desenvolver uma bomba atômica não é de agora - mas serve de argumento perfeito para o momento político.
Tudo isso há pouco mais de um ano da eleição em Israel.