
Não foram só para os cardeais, lá dentro da Capela Sistina, que o voto desta quarta-feira (7) serviu como balizador para os próximos. O primeiro e único processo de votação do dia serviu também para a multidão de fiéis, turistas e curiosos, e para nós, jornalistas, calibrarmos expectativas e controlarmos a ansiedade. Desde 2013, com a eleição de Francisco, não vivíamos um processo de conclave. Não estávamos mais acostumados.
Não é no tempo que queremos. É no tempo dos cardeais, trancafiados sob os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina. É no tempo deles e, homens e mulheres de fé, dirão que é também no tempo do Espírito Santo.
A imprevisibilidade causa ansiedade. A falta de informações também. Principalmente, nesse mundo atual, em que parece que desejamos controlar tudo — até o relógio. A eleição de um papa é, talvez, um dos últimos processos que nos obriga a voltar no tempo: não adianta celular, satélite, GPS, inteligência artifical. Nesta quarta-feira, na Praça de São Pedro, estávamos irmanados à espera de um único sinal, literalmente, de fumaça. Algo quase ancestral.
Não adiantava ser padre, freira, teólogo, professor de Direito Canônico, ou meros leigos, como eu. Ninguém sabia o que estava ocorrendo lá dentro da Capela Sistina — e, todos, obrigatoriamente, saberiam o resultado na mesma hora.
Tamanha impaciência levou muitos fiéis a iniciar aplausos, como a plateia aí no Brasil costuma fazer antes de um show, diante do atraso de um artista. Era como se quisessem apressar os cardeais. Foi, obviamente, inútil. Ainda não era a hora.
Às 21h2min (16h2min no horário de Brasília), os telões espalhados pela Praça de São Pedro que focavam na pequena chaminé de latão foram apagados. Os fiéis ensaiaram uma vaia. Mas logo a fumaça começou a sair da chaminé. O corte, proposital ou não, obrigou as milhares de pessoas ali reunidas a piscar, calibrar o olho e mirar na chaminé. Como se alguém — o Vaticano, os cardeais, o Espírito Santo... — dissesse: "Ao menos nesse momento, vocês, povo de Deus, deixarão as telas de lado e olharão para a vida real. Para a história que acontece aqui e agora, diante de vossos olhos".