
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
A medida do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de proibir a Universidade de Harvard — a mais antiga e prestigiosa do país — de admitir estudantes estrangeiros fez com que alunos e professores de diversas instituições em solo americano ficassem apreensivos diante do cenário que pode se desenrolar nos próximos capítulos da batalha entre a Casa Branca e o ensino superior.
Harvard chegou a processar o governo na manhã de sexta-feira (23), contestando a revogação abrupta, e, menos de 24 horas depois, uma juíza de Boston concedeu uma liminar suspendendo temporariamente o decreto federal. Mas o alerta segue aceso.
A coluna conversou com um pesquisador visitante em Harvard, que afirmou que a situação é tensa e de "incerteza generalizada" diante dos próximos passos de Trump.
— Isso é um alerta para todas as universidades, não só contra Harvard. Na verdade, me parece uma estratégia do governo para enfrentar a faculdade mais poderosa. Se ela se curvar, fica evidente para todas as outras que não adianta resistir. Acho que essa questão não tem muito a ver com antissemitismo ou com ideologia woke; é algo que vimos na Hungria e em outros países, onde governos buscam maior controle sobre as universidades.
Segundo o pesquisador, que preferiu não ser identificado, ainda há muita incerteza sobre o que vai acontecer:
— Há muitos boatos, mas tanto alunos quanto professores aguardamos orientações sobre como proceder. O dano, porém, já está feito. Converso frequentemente com estudantes recém aceitos, e muitos têm ofertas de outras instituições, inclusive fora dos EUA. Entendo se alguns optarem por universidades em outros países ou até em outras faculdades americanas, diante do risco.
A Universidade encaminhou um e-mail à comunidade internacional. Segundo o comunicado assinado pelo presidente de Harvard, Alan M. Garber, a revogação é uma retaliação a universidade "por nossa recusa em abrir mão de nossa independência acadêmica". A nota também afirma que a medida coloca em risco o futuro de milhares de estudantes e serve de alerta para todo o país. Aos estudantes, disse: "saibam que vocês são membros vitais da nossa comunidade".
Trump acusa Harvard de promover o antissemitismo e de ter ligações com o Partido Comunista da China. Harvard tem cerca de 30% de estudantes estrangeiros — quase 7 mil em seu corpo discente.
Demais universidades
A coluna também conversou com um professor brasileiro de uma universidade em Washington. Segundo ele, a avaliação jurídica entre professores e instituições é de que a decisão de Trump "vai cair", por falta de embasamento legal de suas acusações e por ser difícil revogar coletivamente os vistos. A universidade onde ele leciona está orientando os alunos a não deixarem o país durante as férias de verão. O novo ano letivo começa em setembro.
— Estamos sugerindo que não viajem, pois podem não conseguir voltar. Inclusive, a universidade vai manter os dormitórios abertos — contou. — Os alunos estão frustrados, estar aqui é uma conquista pessoal. Eles se sentem ameaçados.
Outra preocupação é que este é apenas mais um entre os vários conflitos entre Trump e as universidades. Em abril, o presidente americano cortou bilhões em repasses federais para instituições de ensino. No caso de Harvard, o corte foi de US$ 2 bilhões.
— Algumas universidades estão cogitando ativar campi fora dos Estados Unidos — completou o professor.