
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Não deu certo a reunião que poderia culminar em um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, na Turquia, nesta quinta-feira (15). O presidente russo, Vladimir Putin — que foi quem tomou a iniciativa de marcar o encontro —, não compareceu. O líder ucraniano, Volodimir Zelensky, até chegou a ir à Istambul, mas, em resposta, decidiu também não aparecer no encontro, por "não ter nada a fazer lá", nas suas palavras.
— Sentimos o desrespeito russo. O nível de comunicação e da delegação enviada é um desrespeito pessoal. Um desrespeito a mim, ao presidente Trump, ao secretário Marco Rubio e aos ministros turcos e ucranianos, que estão todos aqui. Cadê os ministros russos? — afirmou Zelensky em coletiva de imprensa.
Do lado russo, esteve presente uma delegação de baixo escalão. Havia a expectativa de que o presidente dos Estados Unidos Donald Trump aparecesse, mas, diante da ausência do Kremlin, ele também decidiu não participar.
— Eu acho que foi uma reunião nem de segundo, mas de terceiro escalão. Mas quem decide não é o terceiro escalão — comentou o professor de Relações Internacionais da ESPM-SP, Roberto Uebel, à coluna.
Segundo o professor, hoje Moscou conta com mais poder diante da possibilidade de iniciar um acordo de paz.
— Acho que hoje essa bola, digamos assim, está mais do lado do Putin do que de Zelensky. Está muito claro que Kiev tem interesse em uma negociação de cessar-fogo, de interrupção dos ataques, mas a Rússia está jogando com o tempo. Não é do interesse deles, neste momento, negociar um cessar-fogo. As cartas estão na mão de Moscou — afirmou Uebel.
Zelensky chegou a cobrar, nos últimos dias, apoio do presidente Lula diante do conflito. O brasileiro disse que, se tivesse oportunidade, conversaria com Putin para sentar à mesa junto ao ucraniano.
— Não acho que o Brasil tenha força para mediar o conflito. O que eu vejo, sim, é que tem até capacidade de construir uma ponte, porque tem uma boa relação com a Rússia, os dois estão nos Brics. Mas mediar o conflito, acho muito difícil. Convencer o Putin também é difícil, mas pelo menos é um bom mensageiro — explicou o professor.
O quase encontro ocorreu na Turquia, do outro lado do Mar Negro. Não é a primeira vez que o país liderado por Recep Tayyip Erdoğan atua como mediador desse conflito. O país é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Alguns líderes da União Europeia não concordam com esse posicionamento de interlocutor, mas a população dos países já contesta o aporte de recursos para o conflito.
— A União Europeia, de fato, já está cansada da guerra. Há pesquisas de opinião pública em alguns países: menos de 20% da população ainda apoia a guerra. Perguntei a alunos meus intercambistas brasileiros na Bélgica, na Espanha e na França, e eles disseram que ninguém mais apoia essa guerra, ninguém mais apoia o envio de dinheiro para a Ucrânia. Todo mundo quer cessar-fogo, mesmo que seja nos termos da Rússia — completou.