
O cardeal Robert Francis Prevost, atual prefeito do Dicastério para os Bispos e agora papa Leão XIV, foi eleito como o novo líder da Igreja Católica. Embora seu nome figurasse entre os papáveis, não era considerado um dos favoritos. Sua eleição apresenta alguns aspectos geopolíticos relevantes para análise.
Historicamente, esta é a primeira vez que um americano assume o trono de São Pedro. Imediatamente após o anúncio, o presidente Donald Trump declarou: "Não vejo a hora de conhecer o papa Leão XIV". Este será um ponto interessante a observar nos próximos meses: o relacionamento entre o novo Pontífice e o líder americano. Ao contrário de Trump, Prevost compartilha da visão progressista sobre questões ambientais, assistência aos pobres e acolhimento a migrantes.
Há, inclusive, diversas mensagens com críticas a Trump e ao vice, J.D. Vance, em seu X, antigo Twitter.
Outro detalhe é que os EUA não é proeminente um país católico, com a maioria dos estadunidenses ligados ao protestantismo. Há também que se observar seus posicionamentos futuros diante do conflito entre Ucrânia e Rússia, já que Trump está fortemente envolvido com um possível cessar-fogo. Também no Twitter, ele compartilhou críticas do papa Francisco a guerras e à violência "do homem contra o homem".
Embora não possamos saber ao certo o que levou os 133 cardeais eleitores a escolhe-lo, é provável que a política de abertura e expansão do Colégio Cardinalício promovida pelo papa Francisco — que inclusive criou Prevost cardeal em 2023 — tenha influenciado essa decisão.
A nacionalidade chama atenção, pois contraria as expectativas que apontavam para papa um italiano ou, ao menos, europeu. Prevost nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, e construiu grande parte de seu ministério no Peru — apesar de não ser latino, esta é a segunda vez que a Igreja tem um líder com forte ligação com a América do Sul.
Segundo o site College of Cardinals Report, sua atuação no Peru destacou-se durante as turbulentas crises políticas do país, onde desempenhou papel fundamental na manutenção da estabilidade institucional em meio à sucessão de crises de governos. O novo papa revela certa experiência de habilidades diplomáticas.
Logo no início da crise da covid-19, o novo Papa defendeu as políticas de distanciamento social e pediu à população para respeitar a luta contra o contágio — mesmo quando tinha que transmitir as missas online.
— Onde duas ou três pessoas estão congregadas em nome de Jesus Cristo, ele está ali. Asseguro a vocês minhas orações, preocupações e desejos de estar perto — afirmou o então bispo de Chiclayo. A arquidiocese local também doou milhares de máscaras KN95 para proteção.
Também em Chiclayo, ele condenou a pena de morte, dizendo que "não é admissível", e colocou em dúvidas as terapias de castração química para estupradores.
— Apenas responder aos desejos de vingança não nos gera o que precisamos como seres humanos. Apenas nos faz matar mais e mais — disse em entrevista ao jornal peruano La República em 2022.
Posicionamento político
Mas Robert Prevost é de esquerda ou de direita? As redes sociais não deixam claro isso. Porém, em 2015, ele compartilhou uma frase do cardeal Francis George, então falecido, que dá uma orientação sobre seu pensamento.
"Na Igreja hoje, há vozes à esquerda que se ressentem dos ensinamentos da Igreja sobre muitas questões, particularmente a moralidade sexual, e, portanto, se ressentem dos bispos que os defendem. Há vozes à direita que dizem que abraçam os ensinamentos, mas se ressentem dos bispos que não governam a Igreja exatamente como eles dizem que os bispos deveriam. Mas a natureza do episcopado é ser livre para agir em nome de Cristo como pastores da Igreja. Os bispos não podem ser cooptados pela autoridade estatal ou pelo poder político, nem por grupos de pressão dentro da Igreja, para que não fracassem em seu ofício", disse Francis George na frase compartilhada pelo então arcebispo Prevost.
Considerado um reformista, o novo Papa demonstra proximidade com a linha de abertura e renovação eclesial implementada por Francisco, indicando a continuidade desse projeto de transformação na Igreja Católica.
Veja o primeiro discurso no novo Papa