O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, que também é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), foi um dos 133 cardeais que participaram do conclave que elegeu o papa Leão XIV.
Depois de mais de 20 dias na Europa, ele retornou ao Rio Grande do Sul na segunda-feira (19) e, na terça (20), expressou suas impressões sobre o evento histórico.
Segundo Spengler, durante as votações fechadas na Capela Sistina, pouco se conversava. Os diálogos entre os pares ocorriam, de fato, nas assembleias gerais que antecederam os escrutínios. Ele contou que, antes do conclave, todos os participantes receberam um livro com o histórico dos cardeais, de modo a ajudar na escolha.
— Depois de duas ou três horas ouvindo cada um, a gente não aguenta mais — disse, bem-humorado. — Mas é uma sensação privilegiada de ouvir as visões da Igreja de diferentes lugares. Ouvir o cardeal do Irã, de onde não se tem notícia, ouvir o cardeal do Myanmar, Nicarágua, então é uma experiência única e muito bonita — completou.
Um dos fatos que mais marcaram os dias em que o arcebispo passou no Vaticano foi a entrada na Capela Sistina.
— Lá dentro é um local de oração silenciosa. E vou guardar na memória o que foi a entrada, ver 133 homens invocando a Ladainha de Todos os Santos, ou Veni Creator Spiritus, o "Vinde, Espírito Criador"... É de fazer os pelos virarem ao contrário. Lá dentro compreendi o que mais significa ser católico — enfatizou.

Contato com o papa Leão XIV
O papa Leão XIV foi eleito na quarta votação. O arcebispo faz votos para que o novo pontífice tenha "vida longa" e, mais uma vez de forma engraçada, disse que espera que essa seja "a primeira e última vez" que ele participa de um conclave:
— O Papa é uma pessoa afável e com capacidade de escuta extraordinária. Ele te olha nos olhos, e é um olhar que não está disperso quando conversa.

Outro momento que Spengler destacou foi a votação que elegeu o então cardeal Robert Prevost.
Quando chegou aos 89 votos (dois terços do total de eleitores), começamos a bater palma. Ele estava do outro lado, na minha direção, e permaneceu muito sereno. Foi um momento muito bonito.
DOM JAIME SPENGLER
Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre
Todos os participantes prestaram juramento de silêncio sobre tudo o que ocorreu dentro do conclave. Questionado sobre o seu voto, ele afirmou:
— Voto eu dei para quem eu achei digno para esse ministério. É secreto — riu.
Spengler foi um dos seis religiosos que tiveram a oportunidade de cumprimentá-lo após a missa inaugural no domingo (18). Antes disso, o arcebispo já havia encontrado com Leão XIV em duas oportunidades:
— Prestei cooperação fraterna e obediência filial. Um homem que é escolhido para esse serviço não se pertence mais, pois você só sabe que tem começo e apenas isso.
O cardeal afirmou que o papa Leão XIV conta com um conhecimento razoável sobre o Brasil e que fala perfeitamente um "portunhol".