
Em julho de 1980, quando João Paulo II esteve em Porto Alegre, a multidão brincou:
- Ucho, ucho, ucho, o Papa é gaúcho!
A frase marcou. Anos depois, o papa polonês sempre lembrava, mesmo já idoso, quando recebia alguma comitiva do Rio Grande do Sul no Vaticano.
- Ucho, ucho, ucho - repetia, para sorriso (e orgulho bairrista) dos presentes.
O fato é que, embora nenhum brasileiro tenha sido eleito papa nesses 2 mil anos de história, alguns chegaram a pontuar em votos na Capela Sistina ou tiveram seus nomes aventados durante as congregações gerais, os encontros pré-conclave, como esses que estão ocorrendo agora.
O gaúcho de Estrela dom Aloísio Lorscheider, que foi arcebispo de Aparecida até 2004, teria, inclusive, chegado bem perto no conclave de 1978, que elegeu João Paulo II. Obviamente, ninguém sabe o resultado da eleição, que é sigilosa, mas alguns religiosos e teólogos dizem até que ele teria alcançado os dois terços mínimos para ser eleito - mas teria recusado a escolha por razões de saúde (havia colocado várias pontes de safena).
Naquele ano, o mundo católico escolheu dois Papas - João Paulo I (Albino Luciani) morreu 33 dias após o conclave. Os cardeais, na eleição seguinte, escolheram Karol Wojtila, o papa João Paulo II. Dom Lorscheider viria a morrer em 2007.
Verdade ou não, dom Lorscheider foi um dos grandes cardeais brasileiros.
Outro que chegou a contabilizar votos em um conclave foi dom Cláudio Hummes, curiosamente também franciscano, como dom Lorscheider.
Gaúcho de Batinga, interior de Brochier, quando pertencia a Montenegro, dom Cláudio teria se destacado no conclave de 2005, que elegeu Bento XVI. Amigo do cardeal Mario Bergoglio, inclusive, teria sido ele a soprar ao argentino que não se esquecesse dos pobres no momento da eleição em 2013. Por isso, Bergoglio teria escolhido o nome Francisco.
Dom Cláudio foi um dos cardeais brasileiros mais influentes na Cúria, chegando a ser prefeito da Congregação para o Clero. Estava ao lado de Francisco quando ele apareceu pela primeira vez no balcão da Basílica de São Pedro após a fumaça branca.
Hoje, dom Odilo Scherer, natural de Cerro Largo, também no Rio Grande do Sul, e que também já chegou a receber votos em um conclave, é o cardeal brasileiro de maior destaque. Arcebispo de São Paulo, ele chegou a pedir aposentadoria a a Francisco no ano passado, mas o papa pediu que ele permanecesse mais um pouco à frente da maior arquidiocese do país.