
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Lula brincando com jabutis na Granja do Torto. Governador Eduardo Leite malhando com o marido, Thalis Bolzan. Prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, andando de sandboard. Cada vez mais políticos de todas as esferas têm utilizado as redes sociais com vídeos engraçados, mostrando suas conquistas de maneira popular, seu dia a dia fora dos cargos oficiais e sua vida pessoal.
A coluna conversou com o especialista em marketing político e eleitoral Marcelo Vitorino, sobre esse jeito de se comunicar nas redes sociais.

É um novo meio de se comunicar?
Na verdade, acho que é um entendimento melhor sobre o que é uma rede social do ponto de vista político. Porque não tem nada de novo em relação nem à plataforma e nem ao que dá engajamento à plataforma. O que tem de novo é que eles estão começando a perceber isso. Porque há muitos anos os algoritmos estão a mesma coisa. É que o político tradicional costuma usar a rede social como se fosse um canal de comunicação tradicional. E ele tenta informar na rede social e não entreter. O problema é que uma rede social é baseada em entretenimento e relacionamento. Ela não é baseada em informação. Quando a pessoa quer se informar, ela procura a Zero Hora, por exemplo. Ela não vai procurar no Instagram a profundidade de uma informação.
É uma nova forma de aproximar o político da população?
O que acontece? Você não consegue dar profundidade na rede social de nada. Mas as publicações podem ajudar os eleitores a ter uma percepção do político. Então, assim, não vai gravar uma coisa específica ou com muita profundidade, mas vai ajudar a fazer a reputação do político. Por exemplo: você tem vários agora com estilos diferentes. O Topázio (Neto, prefeito de Florianópolis), é mais conservador, apela menos ao entretenimento e mais à franqueza. Ele é um político que se mostra muito franco, conversando diretamente com a internet, com a rede e tal. Aí você vai pegar o Manga (Rodrigo, prefeito de Sorocaba), que é basicamente entretenimento. Ele não tem o mesmo estilo conservador do Topázio, mas ele também tem o seu espaço. Eu vou pegar o (João) Campos, lá de Recife. É basicamente mais entretenimento. O Eduardo Paes (prefeito do Rio de Janeiro) faz um misto. Ele é menos entretenimento, ele é informativo, mas tem narrativa. O David Almeida, em Manaus, ele é mais informativo. Não vai dar tanto engajamento, mas ele fala com o público dele. Não adianta você tentar fazer uma imagem descolada de quem você é.
Qualquer político pode fazer esse tipo de comunicação?
Eu acho que não usando só entretenimento, e bom humor, mas acho que todo político, se conseguir entender o uso da rede social, ele vai conseguir se aproximar. Mas a rede social tem que parar de ter papel informativo. Por exemplo, o que ele publica? Aquela foto que não tem atração nenhuma, uma foto comum, que não diz nada. E aí na legenda ele bota: "Estive aqui reunido com Fulano para resolver os problemas da cidade". O problema está no entendimento do político sobre o uso da rede. Ele tem que mudar o jeito de pensar sobre a rede. Mas não precisa seguir o caminho de um ou de outro. Vamos supor que eu fosse inaugurar uma ponte. O que o político tradicional faz? Ele posta uma foto do dia da inauguração, tem um monte de gente, aquele bando de papagaio de pirata, e aí ele só fala de valor, ou da emenda de tanto nessa ponte e tal. Isso não vai dar engajamento. Ele está mais preocupado em vincular, que foi ele que fez a ponte, do que o benefício da ponte. Agora, se ele pegasse esse mesmo exemplo que eu te dei, em vez de aparecer lá com um monte de papagaio de pirata, aparecesse ele andando pela ponte com um morador que agora pode atravessar para o outro lado, ia ser muito melhor. E aí ele conversa com o morador, o morador conta um pouco sobre qual é a dificuldade que ele tinha. Ele não precisa se auto elogiar. O morador vai fazer isso. Dá para entrar nisso até sem virar palhaço de circo. Por exemplo, a maior parte dos eleitores são do Rio Grande do Sul não combina com nenhum político que eu conheço aí de uma identidade tão bem-humorada, digamos assim.
O governador Eduardo Leite tem mostrado bastante a sua vida privada. É um estilo?
Ele tenta buscar a aproximação por revelar o bastidor do seu dia a dia. Agora, você vê, o Topázio, que é também um prefeito com perfil do Sul, ele não mostra tanto o bastidor do dia a dia dele da pessoa física, ele mostra o bastidor do prefeito.
Quais as principais características?
Eu acho que é muito a vontade do político, tem político que é mais tranquilo, tem político que acha que mostrar a própria vida vai criar conexão. Agora, eu pergunto, quantos dos eleitores que estão conectados têm uma rotina de atividade física que vão olhar para o Eduardo Leite e vão falar, nossa, esse cara é como eu. Para você criar empatia, você tem que mostrar algo que seja da proximidade da vida do eleitor. A maioria dos eleitores não tem tempo para academia não, ele está atrasado para pegar a condução, para chegar no trabalho, aí chega em casa e tem que cuidar de filho. A realidade das pessoas não é essa.
Falando sobre o governo federal, Lula tem utilizado isso. É um jeito de desviar assuntos mais tensos do governo?
Não, eu não tenho dúvida que a comunicação do político, principalmente do cargo de executivo, ela tem como foco, às vezes, quando o governo está mal avaliado, tirar a visão sobre o governo. No caso do Lula, ele está tentando se humanizar. Porque, de fato, ele ficou distante, mas ele não ficou distante por causa da comunicação. Ele ficou distante por causa da política dele. O Lula, dos dois primeiros mandatos, era um Lula que articulava politicamente muito mais do que hoje. É um Lula que recebia mais pessoas, é um Lula que falava com todos os partidos, o seu ministério era mais heterogêneo que hoje. Então, não é uma questão também que a comunicação vai fazer milagre. Hoje o governo parece muito mais à esquerda do que eram os dois primeiros governos dele.
O caso do boné "O Brasil é dos brasileiros" foi nessa linha?
Sem dúvida. A história do boné foi para ver se matava a história do Pix. E aí, a direita, de forma, vamos dizer assim, irracional, caiu na história do boné. A direita, ela comprou. Na política, tem uma coisa que eu falo para os meus clientes. Se um dia um adversário te chamar para dançar, não aceite. Isso é uma coisa meio óbvia. Não é um amigo que está te chamando para dançar, é um adversário. Se ele desperta, ele recusa a dança. Então, a esquerda botou a história do boné, a direita devia ter ficado quieta.
Esse jeito de se comunicar consegue atingir mais eleitores? Os políticos vão utilizar mais?
Primeiro que é relativo. Esse não é um jeito mais fácil. Para você realmente conseguir atrair atenção na rede social, tem que ter um investimento em equipe. Então, não é uma coisinha assim, pode ter certeza, o Topázio tem equipe, todo mundo tem equipe. Então, não é bem mais fácil, não. Não é da cabeça dos caras. Quando é da cabeça, não tem tempo para ser redator, para ser videomaker. Tem um trabalho aí que é feito por uma equipe profissional. Quem consegue se destacar mais hoje, com certeza está investindo em uma equipe profissional. Ponto um. Ponto dois. Se você quiser realmente alcance e audiência ao longo da minha rede social, o melhor caminho é indexação via Youtube e site, por incrível que pareça. Então, do ponto de vista estratégico, você tem que fazer um balanceamento aí. Faz rede social, porque é importante. Rede social dá prova social, ela está conectada ao momento, e isso é muito bom. O YouTube é bem melhor do que o Instagram. Porque o Instagram, ele vai me tornar conhecido para determinadas pessoas. O YouTube, ele me torna conhecido para tudo. O YouTube não tem busca. O Instagram você não está preocupado em atrair atenção nos primeiros 5 segundos. Porque a pessoa que pesquisa por algo no Youtube, ela quer uma informação. É diferente de quem está na frente do Instagram, que não está pesquisando por nada e de repente aparecer um vídeo.