
Os nove minuitos e 31 segundos de pronunciamento do presidente Donald Trump na TV, na quarta-feira (11), revelam toques de xenofobia.
O mais flagrante deles foi percebido imediatamente pela mídia americana: o momento em que Trump, na quarta frase de sua fala (leia aqui a íntegra em inglês ou assista ao vídeo abaixo), chama o coronavírus de "vírus estrangeiro":
– Este é o esforço mais agressivo e abrangente para enfrentar um vírus estrangeiro na história moderna.
O jornalista Jim Acosta, da rede CNN, foi um dos primeiros a flagrar a palavra, em seu relato ao vivo da Casa Branca. O repórter autor do livro Inimigo do Povo já discutiu com Trump durante uma entrevista porque o presidente se negava a responder a suas perguntas em 2018.
– O presidente se referiu ao coronavírus como um "vírus estrangeiro". Isso é interessante porque eu estava conversando com fontes esta noite, um dos pontos que o presidente queria fazer hoje à noite, que ele queria passar para os americanos, é que esse vírus não começou aqui. Mas que eles (americanos) estão lidando com isso – disse Acosta.
Segundo o jornalista, o texto do pronunciamento de Trump foi escrito por Stephen Miller, tido como um linha-dura contra a imigração.
Diante de um olhar atento há outros momentos em que Trump adota tom xenófobo e nacionalista na fala:
– O vírus não terá chance contra nós. Nenhuma nação é mais preparada ou mais resiliente que os Estados Unidos – afirma, na penúltima frase do pronunciamento, como se estivesse lidando com um país invasor ou um ataque terrorista.
Outra pergunta que se pode fazer é se há sentido, a esta altura da pandemia, deixar o Reino Unido de fora das restrições de voos? Trump proibiu empresas procedentes da Europa de pousarem nos Estados Unidos, mas excluiu os que decolam de aeroportos britânicos. A exceção é questionável porque, agora, o coronavírus já circula pelo território americano.
Não faz sentido proibir voos da União Europeia e excluir o Reino Unido, que enfrenta dificuldades para conter a epidemia. Até esta quinta-feira (12), há 459 casos registrados entre os britânicos (com oito mortos), cifra maior do que muitos dos países europeus que Trump excluiu (como Áustria e Bélgica, por exemplo).
Em outro trecho do discurso, Trump fez questão de enaltecer a capacidade americana de lidar com um problema que ele identifica como essencialmente ligado aos estrangeiros.
– Nossa equipe é a melhor em qualquer lugar do mundo – afirmou.
O presidente americano culpou chineses e europeus por pandemia.
– A União Europeia falhou em tomar as precauções em restringir viagens da China e outros focos, e, como resultado, um grande número de casos incubados foram trazidos para os EUA.