
Todo ano, o palco da Worldwide Developers Conference (WWDC) é montado com a mesma promessa silenciosa: a de que a Apple vai mostrar o futuro. Só que, neste 2025, o que vimos foi mais um festival de polimento — bonito, sim — mas sem faísca. A empresa que uma vez transformou o telefone em computador de bolso e os fones em objetos de desejo agora parece mais preocupada em manter a casa arrumada do que em construir algo novo.
Não me entenda mal: o novo design Liquid Glass é elegante. Translúcido, fluido, harmonizado com o visionOS — ele é o tipo de inovação visual que só a Apple sabe fazer. Mas... é isso. O iOS 26, o iPadOS 26 e até o novo macOS Tahoe trouxeram ajustes, refinamentos e melhorias aqui e ali. Mas nada que arranque um “uau”. A multitarefa do iPad finalmente ganhou janelas redimensionáveis? Ótimo, mas isso é o básico em qualquer sistema desktop. O Mac se despede dos chips Intel? Sim, mas essa transição já estava desenhada desde 2020.
O capítulo mais aguardado — a integração de IA generativa — trouxe bons sinais, mas também um gosto de atraso. A Apple apresentou seu modelo on-device, focado em privacidade, mas para realizar tarefas mais complexas... ela recorreu ao ChatGPT. Sim, a empresa que sempre fez questão de controlar tudo, agora terceiriza parte da experiência para a OpenAI.
E a Siri, coitada, nem apareceu. Sua prometida versão turbinada com IA conversacional foi oficialmente adiada para 2026. Resultado: as ações da Apple caíram mais de 1% durante a apresentação. O mercado não perdoa quando a expectativa é de foguete, mas se entrega um planador.
Enquanto isso, a concorrência não está parada. A Microsoft integrou IA em nível profundo no Windows e no Office. O Google avançou com o Gemini, e startups como a Perplexity e a Anthropic mostram ritmo acelerado. A Apple, que um dia foi referência em antecipar o amanhã, hoje parece estar apenas reagindo.
Há, sim, pontos positivos. O foco em IA on-device é coerente com o discurso da marca sobre privacidade. Os AirPods agora controlam a câmera do iPhone e melhoram o áudio em chamadas com isolamento vocal — detalhes interessantes. Mas será que detalhes são suficientes para uma empresa do tamanho (e da ambição histórica) da Apple?
O WWDC 25 me pareceu um evento mais preocupado em manter a identidade do que em desafiar os limites. Talvez seja o novo normal da Apple: menos revolução, mais evolução controlada. Mas, se for isso mesmo, é bom ajustar as expectativas. Porque o futuro, esse que esperamos ver no palco da Apple, está sendo construído — só que por outras mãos.