
Você já foi atendido por um robô do governo — talvez sem perceber. A inteligência artificial, antes restrita à ficção ou aos laboratórios, já atua em serviços públicos que vão da educação à segurança. Mas, mais do que automatizar atendimentos ou agilizar processos, a IA tem mostrado que pode ser uma ferramenta poderosa para promover justiça social, prevenir crises e personalizar políticas públicas. A pergunta não é mais se os governos vão usar IA, mas como — e com qual propósito.
No Brasil, um exemplo simbólico dessa mudança vem do Governo do Rio Grande do Sul, que lançou recentemente a assistente virtual GurIA, um chatbot baseado em IA generativa integrado ao portal de serviços rs.gov.br. Mais do que responder dúvidas, a GurIA conversa com cidadãos por WhatsApp, SMS e e-mail, envia lembretes de prazos, alertas sobre benefícios e ajuda a navegar por jornadas como “Aluno”, “Empreendedor” ou “Servidor Público”.
A GurIA representa uma mudança silenciosa — mas profunda — na forma como o Estado se comunica. É o governo falando com o cidadão de forma personalizada, contínua e, acima de tudo, proativa. A IA não está apenas respondendo perguntas; está antecipando necessidades.
O nome GurIA não é à toa: além de brincar com o sotaque gaúcho e a palavra “guria”, reforça o caráter próximo e acessível dessa nova forma de relação entre cidadão e Estado. Um toque humano na tecnologia.
E lá fora?
Outros governos também avançam. A Estônia é referência mundial com seu sistema KrattAI, que conecta serviços públicos e antecipa demandas da população. No Chile, algoritmos auditam licitações para prevenir fraudes. No Uruguai, a IA do Plano Ceibal identifica risco de evasão escolar e oferece reforço. No Reino Unido, o Parlamento testa IA generativa para resumir projetos de lei e facilitar o acesso público à informação.
E no Brasil, além da GurIA, já vemos iniciativas como o chatbot da Receita Federal para o IR, e hospitais públicos de São Paulo que adotam algoritmos para diagnóstico por imagem e predição de doenças.
Segundo o World Economic Forum, 73% dos governos planejam acelerar o uso de IA até 2026, mas menos de um quarto tem diretrizes éticas bem definidas. Esse é o grande ponto: a tecnologia avança rápido, mas a responsabilidade precisa acompanhar.
IA no setor público não pode ser apenas sobre eficiência. Tem que ser sobre relevância. Tem que reduzir desigualdades, e não reforçá-las. Tem que prever problemas sociais, e não apenas cortar custos. O que o Rio Grande do Sul mostra com a GurIA é que dá para fazer isso — e já está fazendo.
Que esse exemplo sirva como ponto de partida para um debate mais profundo no Brasil: como garantir que os algoritmos que servem ao governo também sirvam à população? Porque no final, o que está em jogo não é só inovação. É cidadania.