
O mundo está mudando rápido — e o novo Papa parece saber disso. Ao escolher o nome Leão XIV, ele não fez só uma homenagem histórica, fez um aceno claro para o futuro. O nome vem de Leão XIII, Papa que lá em 1891 enfrentou a primeira grande revolução industrial com a famosa encíclica Rerum Novarum, defendendo os direitos dos trabalhadores em tempos de fábricas, exploração e transformação social. Mas tem mais: Leão XIII também foi o primeiro papa a ser filmado, num tempo em que o cinema ainda era uma novidade. Coincidência? Difícil. Leão XIV está dando um recado: a Igreja não vai fugir do debate sobre tecnologia. Vai entrar nele com os dois pés.
IA na pauta do Vaticano
Em sua primeira fala pública, o novo Papa já mandou a real: vivemos uma nova revolução industrial, dessa vez guiada pela inteligência artificial. E que, assim como no final do século 19, a Igreja precisa estar presente, oferecendo direcionamento num mundo que anda meio perdido. Segundo a consultoria McKinsey, até 30% das horas de trabalho no mundo podem ser automatizadas até 2030. Isso muda tudo — emprego, renda, desigualdade, relações humanas. E aí entram questões que sempre foram centrais pra Igreja: justiça, dignidade, solidariedade.
Ao invés de rejeitar ou aplaudir cegamente a IA, o papa Leão XIV parece querer fazer o que a Igreja sempre fez nos momentos de virada: ajudar a humanidade a encontrar o caminho ético em meio a tanta confusão e incertezas.
Pode surpreender, mas a Igreja nunca foi exatamente “atrasada” quando o assunto é inovação. Foi um monge, Gregor Mendel, quem deu início à genética moderna. O Vaticano lançou seu site oficial em 1995, quando a maioria das pessoas nem tinha internet em casa. Em 2012, o papa Bento XVI criou uma conta no Twitter. E o papa Francisco levou adiante temas como sustentabilidade e mudança climática com iniciativas digitais, como a Plataforma Laudato Si’ e a encíclica Laudate Deum.
Agora, com a escolha de Leão XIV e seu discurso inicial, parece que a inteligência artificial vai entrar pra valer na pauta teológica e social da Igreja.
Outro desafio não menos importante: como conversar com os jovens de hoje? De acordo com dados da Pew Research, menos de 30% dos jovens entre 18 e 29 anos na Europa se identificam como católicos praticantes. Essa galera nasceu no digital, vive nos algoritmos e se informa por meio de redes sociais e plataformas de streaming. Se a Igreja quiser continuar sendo relevante, precisa aprender a se comunicar nesse novo idioma.
Isso significa pensar em temas como algoritmos que discriminam, IA que reforça desigualdades, decisões automatizadas que afetam vidas reais. Fé e tecnologia não precisam andar em lados opostos — pelo contrário.
Se Leão XIII enfrentou as fábricas, Leão XIV parece pronto pra encarar as big techs.
O novo Papa começa seu pontificado fazendo pontes entre passado e futuro. Ao se inspirar em Leão XIII e trazer para o centro do debate temas como IA, ética e humanidade, ele mostra que a Igreja quer — e vai — participar das conversas que moldam o nosso tempo.
No fundo, os dilemas continuam os mesmos: como viver com dignidade num mundo em constante transformação? A diferença agora é que, além de fábricas e máquinas a vapor, temos algoritmos, robôs e inteligência artificial.
Leão XIV parece pronto pra encarar tudo isso. E talvez, no meio desse caos digital, a gente esteja mesmo precisando de uma nova Rerum Novarum — versão 2025.