A conclusão definitiva da nova ponte sobre o Guaíba, entregue de forma incompleta em dezembro de 2020, é mais um exemplo de como obras importantes de infraestrutura no Estado se transformam em novela com fim arrastado. Apesar de a travessia estar liberada há quase cinco anos para a passagem de veículos, apenas três alças de acesso estão em uso. Outras quatro _ há duas que se sobrepõem e formam uma _ permanecem inacabadas. Esperado por mais de duas décadas, o projeto, portanto, ainda não entrega todas as facilidades prometidas de circulação. Mas surge, agora, uma nova esperança de que o capítulo final se aproxime.
Certamente o impasse continuaria se não prevalecesse o espírito republicano entre as partes
O grande entrave para a continuidade das obras é a existência de famílias em áreas que precisam ser desocupadas para os trabalhos serem depois retomados. Um passo decisivo para a realocação dos moradores que vivem junto à nova ponte foi dado na quinta-feira, com a assinatura de um convênio que prevê a ação coordenada entre a prefeitura da Capital, o Palácio Piratini e o governo federal. Trata-se de uma colaboração exemplar entre os três níveis governamentais, que, apesar das diferenças políticas que volta e meia afloram entre seus representantes, agiram em harmonia pelo melhor interesse público. Ganham os motoristas, a economia gaúcha e as famílias que serão realocadas.
Pelo acordo, o Estado vai repassar R$ 9,9 milhões do Funrigs à prefeitura de Porto Alegre. Os recursos serão depois utilizados para que os moradores das vilas Areia, Cobal, Tio Zeca e Voluntários possam, por um período, pagar aluguel em outro local. Mais de 800 imóveis precisam ser desocupados. Depois, essas famílias serão contempladas pelo programa Compra Assistida, do governo federal, que garante a aquisição de residências no valor de até R$ 200 mil. Essas pessoas, assim, deixarão uma condição de habitação precária para viver em um lugar mais digno.
A colunista Rosane de Oliveira conta em detalhes, em coluna publicada na quinta-feira em GZH, como foi costurado o diálogo que permitiu o consenso que resultou no termo assinado. Certamente o impasse continuaria se, entre as partes, não prevalecesse o espírito republicano e a disposição para cooperar. Há diversas obras no Estado que também têm a intersecção entre os governos federal e estadual e os municípios. Em especial, destacam-se agora as relacionadas à resiliência climática do Rio Grande do Sul. É de esperar que a disposição para construir pontes de consensos continue a se sobrepor aos muros erguidos por divergências políticas.
Ainda não existe certeza sobre quando será possível iniciar as obras e entregar as demais alças de acesso. Entre estas está uma das mais importantes de todas as previstas, a que permite a quem deixa a Capital pela Avenida Castelo Branco ir em direção a Eldorado do Sul. Mesmo assim, a inércia foi rompida com o convênio firmado e passa a ser mais palpável a expectativa de que a nova ponte, nos próximos anos, seja totalmente concluída e, enfim, ofereça todas as opções de deslocamento facilitado para quem transita na Região Metropolitana, independentemente da origem e do destino.


