Após dois anos de mortes, destruição e sofrimento, começa a se materializar um acordo para dar fim à guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas e implementar um plano de paz para a Faixa de Gaza. Trata-se de um acontecimento que merece celebração. Tanto pelos primeiros atos dos termos acertados entre as partes nessa fase inicial como pela esperança renascida de um futuro de estabilidade na região.
É basilar que o Hamas deponha as armas e não tenha controle político sobre o enclave palestino
Por força do acordo, é possível que, a partir de segunda-feira, 20 reféns vivos, que permanecem sob o poder do Hamas desde o cruento ataque ao território israelense do dia 7 de outubro de 2023, sejam libertados e possam enfim voltar para casa. Corpos dos que morreram em cativeiro, após serem sequestrados durante a barbárie que deixou ainda 1,2 mil mortos e provocou o conflito, também serão devolvidos, permitindo uma despedida aos seus familiares - embora se acredite que alguns restos mortais de capturados, perdidos sob escombros, não retornem. Em troca, Israel vai soltar prisioneiros palestinos. O acerto prevê ainda um cessar-fogo, a entrada de ajuda humanitária para os palestinos em situação de fome em Gaza e o início de um recuo gradual das tropas israelenses.
Esse momento deve ser o estágio inicial de um planejamento mais amplo proposto na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O objetivo final é pacificar a região, com a reconstrução de Gaza, a viabilização econômica do território, o desarmamento do Hamas e uma futura administração palestina da área sem a participação do grupo terrorista, o que abriria espaço para uma coexistência respeitosa com Israel. É basilar que o Hamas deponha as armas e não tenha controle político sobre Gaza.
Desde que Trump apresentou a ideia, multiplicaram-se as dúvidas sobre a viabilidade do plano e apontamentos sobre pontos falhos que poderiam levá-lo ao fracasso. Em cada uma das etapas previstas, ações irresponsáveis de figuras radicalizadas de ambos os lados teriam o potencial de condenar o programa de conciliação ao insucesso. Ainda que essas objeções sejam pertinentes, é dever de todos os líderes regionais e globais se somarem aos esforços para alcançar a meta de distensionamento no Oriente Médio, com a busca por uma convivência segura e harmoniosa de Israel e seus vizinhos e o arrefecimento da onda de antissemitismo que acompanhou os desdobramentos do conflito em Gaza. Mas o fato de ter sido possível um acordo para devolver reféns e parar a guerra que legou dezenas de milhares de mortes já é uma vitória da paz, ainda que não total e definitiva.
Apesar do ceticismo que possa existir sobre os passos futuros, devido à complexidade das desavenças históricas no Oriente Médio, é momento de se agarrar à esperança de que, neste instante, estejam sendo lançadas as sementes de uma paz duradoura. Quem sabe, com a criação de um Estado palestino, ao lado e em uma relação construtiva com Israel, com os estranhamentos mútuos dando lugar a uma confiança crescente. O passado não deve ser encarado como um destino do qual não se pode escapar.
