O boletim da Defesa Civil do Estado divulgado nesta segunda-feira pela manhã indicava a existência de 7,3 mil pessoas fora de casa no Rio Grande do Sul devido às chuvas volumosas e persistentes da semana passada. Por certo existem outras milhares que optaram por não abandonar as suas residências, apesar de terem os seus lares atingidos pela água. Estas e os desalojados e desabrigados serão submetidos nos próximos dias a uma provação ainda maior com a chegada das baixas temperaturas. Outra vez precisarão contar com a solidariedade para que o sofrimento pelo qual passam possa ser amenizado.
Renova-se o apelo pela empatia dos que podem colaborar para atenuar o sofrimento de quem está à mercê da inclemência do clima
Além do trauma emocional repetido, ter a casa inundada, para grande parte das famílias atingidas, significa perder móveis, eletrodomésticos e, muitas vezes, roupas e cobertas. Como são moradores de áreas de risco, é plausível supor que muitos atravessam agruras semelhantes pelo terceiro ano seguido.
Mesmo os flagelados que não foram forçados a buscar um abrigo público e conseguiram ser acolhidos por parentes e amigos possivelmente estão mais despreparados para enfrentar os dias gélidos que estão por vir. A meteorologia prevê duas ondas de frio intensas em sequência, que podem manter as temperaturas baixas até os primeiros dias de julho. Algumas regiões terão termômetros com marcas negativas, com o quadro agravado pelo vento.
O frio acentuará o padecimento de milhares de famílias. O momento, assim, é de renovar o apelo pela empatia dos gaúchos que podem colaborar para atenuar o sofrimento de quem está mais à mercê da inclemência do clima. Como ocorreu nos últimos dois anos, em correntes tocantes de solidariedade, também são esperadas doações de fora do Rio Grande do Sul.
A chegada de um inverno que promete ser rigoroso requer ainda maior atenção com a população em situação de rua nas cidades mais populosas. Esse contingente cresceu 14% na Capital após a enchente de 2024, para 5,2 mil pessoas, conforme a Secretaria Municipal de Assistência Social. Sabe-se também que parte desses indivíduos hesita em procurar abrigos e albergues por resistência às regras dos locais. Na Capital, entre as queixas estão os horários, devido à necessidade, por exemplo, de deixar esses pontos até as 7h, quando nesta época ainda está escuro e as temperaturas são baixas. É sensata, nesse sentido, a decisão de manter abertos até às 9h dois locais emergenciais da Operação Inverno, além de oferecer transporte para os necessitados.
As campanhas do agasalho, organizadas pelo Estado e municípios, estão à espera de donativos. Não apenas para os alcançados pelas águas, mas para a população vulnerável em geral. A mobilização capitaneada pelo governo gaúcho foca em itens como lençóis, cobertores, mantas e toalhas de banho. A Defesa Civil faz a triagem e repassa as peças recebidas nos pontos de coleta para as cidades, não necessariamente as atingidas por desastres climáticos. A prefeitura da Capital, por seu turno, reforça a importância da doação de agasalhos, calçados e cobertores em bom estado, além de alimentos não perecíveis. Os suplícios causados pela chuva e pelo frio, portanto, outra vez podem ser aliviados com calor humano.