Muito do que o Rio Grande do Sul se tornou, como um dos Estados mais desenvolvidos do país, se deve ao legado dos imigrantes italianos. Ao chegarem ao território gaúcho 150 anos atrás, esses pioneiros começaram a forjar uma história de perseverança e de progresso que continuou com novos capítulos escritos pelas gerações que os sucederam. Fugiam da miséria, da fome e da falta de perspectivas na terra natal para se aventurarem no Novo Mundo, onde tinham a esperança de reconstruir suas vidas. Ao se olhar para o passado e lembrar dos sacrifícios que enfrentaram, só é possível reconhecer que triunfaram.
Nos 150 anos da imigração italiana, percebe-se que muitas características dos desbravadores permanecem vivas
Os imigrantes italianos não receberam o prometido quando chegaram, no contexto de um programa de colonização promovido pelo Império brasileiro. Mas inexistia opção além de enfrentar a combinação desafiadora do terreno acidentado e de mata densa da região da Serra, onde estabeleceram suas principais comunidades nos anos seguintes. Ergueram moradias, abriram caminhos e iniciaram os primeiros cultivos, como o do milho, do trigo e da uva. Ao avançarem decididos pisando sobre o próprio suor, consolidaram uma de suas principais heranças, a da valorização do trabalho.
Nas famílias precursoras que chegavam ao Estado após viagens de mais de um mês de navio desde a Itália, não havia apenas agricultores. Existiam também artesãos, com habilidades para trabalhar com madeira e metais. É fruto dessas competências – além da veia empreendedora e da necessidade de produzir com as próprias mãos o vinho, as ferramentas, os utensílios e o material de transporte – o surgimento de indústrias como a moveleira, a metalmecânica e a de bebidas. Deram origem a empresas que, nas décadas posteriores, cresceram, tornaram-se líderes nacionais e transformaram-se em protagonistas internacionais de seus mercados. Não à toa a serra gaúcha se tornou um dos principais polos fabris do Brasil, ajudando o Rio Grande do Sul a se firmar também como um dos Estados brasileiros mais industrializados.
No sesquicentenário da imigração italiana, celebrado nesta terça-feira, percebe-se que muitas características e tradições dos desbravadores permanecem vivas. A estima pela instituição familiar, a religiosidade, o sentimento comunitário e a gastronomia são alguns desses traços mantidos pelos descendentes, cerca de 30% da população do Estado. Mas, ainda que valores, costumes e o orgulho da ascendência italiana permaneçam, é preciso registrar que também são e se reconhecem como gaúchos e brasileiros. Quando chegaram ao Rio Grande do Sul, há 150 anos, já estavam aqui indígenas, portugueses, espanhóis, africanos e outros povos europeus, como os alemães – estes, aliás, que tiveram as celebrações dos 200 anos da imigração, comemorados no ano passado, prejudicadas pela enchente de maio. Ao longo do tempo, filhos, netos e bisnetos dos que deixaram a Itália se integraram em perfeita harmonia à sociedade rio-grandense e ajudaram a compor o rico mosaico étnico e cultural que forma a população do Rio Grande do Sul. À frente, junto aos gaúchos de todas as origens, está agora posto o desafio de reconstruir o Estado e desbravar o futuro.