
Daqui uma semana, cada gigante do futebol brasileiro reiniciará o seu exercício particular de sonho possível no Brasileirão da Série A. Todos os 20 clubes da Primeira Divisão pararam, cada um fez o tamanho das férias dos jogadores do seu jeito, se reapresentaram em datas diferentes, fizeram contas, rasparam cofres e concluíram que a vida real é mesmo muito dura.
Inter
Veja o caso do Inter, que voltou a trabalhar depois do Grêmio e alugou apartamento no Z-4 durante o Mundial que não terminou.
Além de temer perder jogadores essenciais pela estrita necessidade financeira, como Vitão, não trouxe nenhum reforço que animasse sua torcida a pensar algo do tipo "agora vai". Nem se trata de contratação de lotar aeroporto, realidade cada vez menos factível para colorados e gremistas, mas de alguém que desse esperança.
O lateral-direito paraguaio que chega, Alan Benitez, repõe a saída de Nathan, um erro de avaliação do Capa, que saiu no anonimato igual como chegou.
De resto, Roger Machado pode chamar de reforço os quatro lesionados que voltam. Três deles recompõem a defesa titular, Rochet, Vítor Gabriel e Bernabei.
O quarto, Carbonero, havia deixado ótima impressão nas finais do Gauchão, com direito a gol na Arena no jogo de ida e aproveitamento múltiplo nos dois lados do campo e no meio.
Como o modelo bem-sucedido do ano passado foi abandonado pelo treinador em 2025, há uma vaga claramente pendente no lado direito do ataque. Roger tentou Vitinho, com quem foi campeão gaúcho, voltou a escalar Bruno Tabata, com resposta modesta, ou então aderiu à medianidade dos três volantes que, na semântica, o treinador preferiu desdobrar em um volante e dois meio-campistas.
A gente pode adotar a palavra que quiser para árvore, mas vai continuar sendo uma árvore. De toda sorte, Roger Machado parece disposto a encontrar um desenho alternativo a todos os outros recentes.
É onde entra Carbonero para compor a frente com Wesley e Borré ou Valencia, embora quem mereça a titularidade no momento seja Ricardo Mathias.
Grêmio
O Grêmio não vive cena muito diferente. Com uma escassez inaceitável na zaga direita, onde só Gustavo Martins tem a aptidão da perna do mesmo lado, o mercado não sorriu para quem veste azul. Não há o tal defensor destro a granel, muito menos a preço que o Grêmio possa pagar.
O relativo conforto do novo momento do Grêmio de Mano Menezes lhe dá gordura para queimar. Mano pode seguir com os dois canhotos, Wagner Leonardo e Kannemann. Pode apostar no carioca já citado, feito na base, que até agora rende melhor quando ataca do que quando defende. Duvido que o treinador se autorize nova oportunidade para Jemerson, cuja saída melhorou o setor.
Na verdade, gremistas em geral estão aliviados porque se afastaram do Z-4, um lugar que não deveria pertencer nem sequer à preocupação no Grêmio e porque o time andou desempenhando o suficiente para vencer. Nas primeiras vitórias, não havia esta base.
O Grêmio ganha do Santos e do Bahia, por exemplo, jogando menos futebol do que o derrotado. Outra perspectiva a alentar a torcida é a proximidade de Luiz Felipe Scolari com a base.
Foi iniciativa do pentacampeão do mundo observar e buscar Riquelme, meia talentoso que já fez gol no profissional. Gabriel Mec, vindo de lesão, logo será testado. Alysson, o meia-atacante da direita, já é um jogador em franca evolução no profissional.
Significa que, não havendo dinheiro para contratar reforço e não aposta, a utilização de quem vem da base pelo desempenho tem sabor de filme repetido, desta vez no melhor sentido da expressão.
O Grêmio campeão brasileiro de 1981 e da Libertadores e Mundial de 1983, o Grêmio multicampeão dos anos 1990 e o Grêmio encantador campeão da Copa do Brasil de 2001 era amalgamado pela qualidade dos mais experientes e a afirmação de meninos feitos em casa que viraram titulares.
Cabe a este Grêmio sem capacidade de investimento o mesmo caminho. Seria melhor se o caminho fosse trilhado por convicção e não por necessidade, mas aí voltamos à tal vida real que nos põe no nosso lugar todos os dias.
Juventude
O Juventude joga outro campeonato desde o início. O episódio ruim da negociação frustrada de Caíque com o Grêmio não chega a atingir o time. O elenco está reforçado de quatro nomes, o mais promissor deles é Gabriel Veron.
Houve saída de gente importante: o meia Jean Carlos não está mais nem entre os reservas. A direção foi lá, recorreu ao último dinheiro possível para reforçar o grupo porque percebeu, corretamente, que só com os que vinham jogando o rebaixamento era destino certo.
Mesmo agora, com o esforço feito para agregar qualidade, o time de Caxias continua sendo um dos favoritos à queda. Já foi extraordinário que tenha se mantido na Série A no primeiro ano de sua volta, mas o futebol inflacionou de um jeito irresponsável e irreversível.
Não duvido que tenhamos, em 2026, dois espetaculares clássicos Ca-Ju como atração, já que o Caxias parece estar no caminho do acesso da Série C à B mais do que nas tentativas anteriores.
Caso o Juventude consiga a façanha de ficar na elite e o Caxias chegue enfim à Segunda Divisão do futebol brasileiro, os caxienses terão dois ótimos motivos para aquele maravilhoso galeto de domingo.
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