
A classificação colorada sob chuva, vento e frio na quarta-feira passada (28) pode não ter sido só um jogo que entrou para a estatística do ano. Se Roger Machado captou o que aconteceu contra o Bahia — e a lógica é que tenha captado, ler o campo é uma de suas grandes qualidades como treinador —, perceberá que seu time avançou não só de fase mas também na estatura.
Não ganhou mais qualidade técnica por osmose. O grupo de jogadores não ficou mais refinado por inércia. O que pode ter acontecido naquela noite foi uma alteração positiva no anímico.
Boa parte da torcida colorada tinha se acostumado e até brincava, um tanto melancolicamente, com a história falsa de ter mais medo do Globo do que do Barcelona. Há quem ache graça, para mim era só triste.
Quando o Inter volta a ser campeão gaúcho contra o Grêmio em disputa direta e passa sem sustos pelo Maracanã na Copa do Brasil, já era sinal de que este meme tinha perdido sentido. Faltava, porém, algo mais abrangente para tornar passado esta brincadeirinha de quinta série de preferir enfrentar o gigante e não o nanico.
A escolha de Roger
Se o treinador colorado trabalhar bem a mente dos seus comandados a partir da virada contra o Bahia, vai convencê-los de que não resta mais herança daquele tempo cinzento. O próprio Roger reencontrou sua melhor ideia de futebol ao não usar o tal terceiro volante — que pode ser chamado de alfa, beta ou gama e continuará sendo o que é — para começar o jogo em que bastava o empate.
Não significa que o treinador tenha arquivado o tripé, não duvido que volte a utilizá-lo dependendo da qualidade do adversário nas oitavas. O que Roger estabeleceu, com suas escolhas, é que está de volta o modelo original de time que levou o Inter à vaga direta da Libertadores pelo Brasileirão 2024 e fez do Inter campeão após oito anos.
Os jogadores viveram a dificuldade do gol do Bahia no início do segundo tempo e reagiram a ela de imediato. Mais do que isso: não pararam a reação com o empate que bastava para se classificar. Buscaram a virada.
Se o centroavante é pago como protagonista, que atue como um, Borré atendeu à demanda. Está claro que o Inter não tem capacidade de investimento para dotar seu treinador de significativa melhora da qualidade geral do elenco.
Mudança de status
Alessandro Barcellos, de forma honesta, não fez promessa após a classificação à próxima fase da Libertadores. Se faltam peças de reposição para dar de frente em igualdade com Palmeiras, Flamengo e River Plate, a qualidade do time titular é boa.
Se não houver perda de jogador essencial na janela, as voltas de Rochet, Victor Gabriel, Carbonero e Valencia soarão como reforços para Roger. Com o tempo à disposição ganhar fôlego e força, mais a dose cavalar de confiança adquirida a partir da virada sobre o Bahia, o Inter muda de status para o que vem por aí.
Antes de ir adiante na Libertadores e na Copa do Brasil, precisará estabelecer estratégia de segurança para se afastar de vez do Z-4 no Brasileirão. Não ouso insultar a inteligência de quem me lê cogitando chance de título no Campeonato Brasileiro.
Esta competição, a mais longa do ano, terá que ser administrada de modo a não prejudicar o Inter onde ele tem chance de taça no armário. Pode ser precipitação do colunista, tudo sempre pode nesta vida, mas o 2 a 1 sobre o Bahia no Beira-Rio pode ter sido a catapulta a impulsionar o Inter para outra turma.
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