
A vitória do campeão da Libertadores sobre o campeão da Liga dos Campeões da Europa não foi criminosa, fortuita ou aleatória. Teve mérito do Botafogo, que amordaçou o PSG do primeiro ao último minuto e nunca deixou de ter caminhos para contra-atacar.
Por óbvio, Renato Paiva reconheceu que Luis Enrique conta com melhor time e melhor elenco, tratou de se defender com extrema competência organizacional e uma atitude extraordinária de cada jogador.
Não chegou a ser a vitória do pobre sobre o rico. O Botafogo virou um item do cardápio do norte-americano John Textor. O clube desfruta desta condição para ter jogadores com os quais não contaria se não tivesse virado SAF. Porém, ainda é o Botafogo do Rio de Janeiro, farda em preto e branco, às vezes de meia cinza.
Na segunda rodada da fase de grupos da primeira Copa do Mundo de Clubes da Fifa, era um time brasileiro vencendo um europeu quando, na síndrome vira-lata que nos acomete neste momento do futebol local, estava decretado ser impossível ganhar de um endinheirado estrangeiro.
Como se viu, impossível não é. O colunista não virou Pacheco, não vive com os pés na realidade de 1970 em que estavam à disposição Pelé, Jairzinho, Tostão e Rivelino. O futebol brasileiro perdeu dinheiro, qualidade, competitividade e não raras vezes perdeu também vergonha na cara. Ainda assim, soa preconceituoso decretar a vitória de qualquer gigante estrangeiro sobre qualquer gigante brasileiro pela simples razão de que um é estrangeiro e o outro, brasileiro.
Por força da moeda, da economia e da geopolítica, as distâncias se ampliaram, o Brasil não é campeão na Copa do Mundo há 23 anos, o abismo financeiro tornou seleções mundiais muitos clubes europeus. O favoritismo é deles, quem há de duvidar?
Quando vi, dias atrás, a Espanha chegar a 5 a 1 sobre a França, na Liga das Nações, não pude deixar de pensar que, se ao invés da França fosse o Brasil de um mês atrás, o placar teria ido a 7 a 1. Com os franceses, ficou em 5 a 4. De toda sorte, logo rechacei o temor injetado pela goleada alemã em 2014 e concluí, sem pachequismo, que o Brasil segue sendo o único país presente em todas as Copas e o único pentacampeão do planeta. É vira-lata nos colocarmos abaixo do subsolo, como seria lunático não reconhecer que as grandes seleções europeias, em 2025, são melhores do que a brasileira. Só não é para sempre. Não é definitivo.
As lições da bola que servem para a vida estão aí. O Botafogo está no grupo mais forte deste Mundial, tem 100% de aproveitamento e deve confirmar sua justíssima classificação contra o Atlético de Madrid. Não vejo o time carioca como um dos favoritos ao título. Mesmo entre os brasileiros, percebo Palmeiras e Flamengo à frente.
O campo, no entanto, está contando outra história. Valente, comovente e organizado, este Botafogo ganhou do campeão da Europa, o PSG do 5 a 0 sobre a Inter de Milão na final da Champions e de 4 a 0 sobre o Atlético de Madrid na abertura do Mundial.
Se Luis Enrique poupou quatro titulares e não teve Dembélé, machucado, este problema cabe aos franceses. Com o dinheiro investido pelo PSG, o treinador conseguiu colocar em campo uma equipe que tinha jogadores da seleção do seu país de 1 a 1.
Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo devem ir às oitavas da primeira Copa do Mundo de Clubes. Com mérito, força de elenco, descanso e, suponho, um comando firme em cada um desses times a lembrá-los de que sí, se puede. Ou, em bom português, claro que dá!
Enquanto isso...
Grêmio e Inter estão muito longe do glamour do evento mundial da nata do futebol no planeta. Não quer dizer que é para sempre, mas sinaliza que os dois gigantes gaúchos vão precisar se mexer numa direção segura e enriquecedora, literalmente, para continuar mantendo sem melancolia o tamanho de cada um. O tal dinheiro novo precisa chegar.
Os departamentos de indicação de reforços dos clubes precisa acertar muito mais nas escolhas. A base precisa ser usada com muito mais coragem e insistência. Mas aí já é assunto para outra coluna.