
Nem o colorado mais pessimista imaginaria uma parada tão indigesta no meio do ano para o seu time. Com base no que já viveu em anos recentes, poderia estar decepcionado pela campanha abaixo da expectativa, já estaria arquivando por mais um ano a candidatura ao título que não ganha desde 1979 e elegendo seus culpados por mais uma frustração.
Ainda assim, não pensaria que sua mente viraria o mês de junho preocupada com zona de rebaixamento. A começar pelo rival, que tem elenco claramente inferior, haveria outros gigantes candidatos ao Z-4 antes de chegar ao Inter. O Vasco da Gama, o Santos...mas não.
A derrota normal para o Atlético-MG na quinta-feira passada (12) fechou um combo de insucessos que levou o time de Roger Machado à posição que abre a zona do rebaixamento. Chamo de normal o insucesso em Belo Horizonte porque o anfitrião estava completo e estreava Dudu.
Em contrapartida, o Inter não tinha Rochet, Victor Gabriel, Bernabei, Fernando e Alan Patrick. Cinco titulares que tornariam o Inter muito mais forte se estivessem em campo. Logo, perder na Arena do Galo tem sua dose de lógica.
O problema é o conjunto da obra. Em 12 rodadas, o Inter ganhou duas vezes, ambas no Beira-Rio. Do Juventude, que está no Z-4 há bastante tempo, e do Cruzeiro, que ficou com 10 jogadores muito cedo no jogo e levou 3 a 0.
Antes e depois, a campanha colorada foi pesadamente insuficiente. A cereja mais azeda deste bolo de resultados ruins foi o empate no Beira-Rio contra o Mirassol, recém saído da Série B. Ali, o Inter deixou dois pontos que hoje o estariam afastando da zona do rebaixamento.
Sobram explicações para uma campanha tão abaixo de qualquer previsão. O esticar da corda para ser campeão gaúcho, o que cito sem nenhum juízo de valor, uma vez que faria a mesma coisa se fosse dirigente do Inter e estivesse completando nove anos sem ganhar nenhum título.
O desgaste natural de um calendário tão ajustado ao enfrentar nas cinco primeiras rodadas alguns dos melhores times do país e um clássico na Arena. As lesões e suspensões que, dependendo do aleatório, podem se somar em determinada partida e deixar o time sem seis ou sete titulares ao mesmo tempo.
Ainda assim, reconhecendo que haja fundamento em todos estes argumentos, não era para deixar chegar numa situação constrangedora de ingressar no Z-4 justamente na rodada em que o campeonato para por 30 dias por conta da Copa do Mundo de clubes nos Estados Unidos.
Falta de atenção
Porque sobre este conjunto de hipóteses para a campanha ruim do Inter há que se acrescentar a tal desconcentração tantas vezes citada por jogadores e pelo treinador. Aqui, indefensável e inaceitável. Desconcentrar do quê, cara-pálida?
O cara vive o sonho de criança de sobreviver de chutar bola, recebe salários fora do padrão nacional, tem atenção de médicos de excelência, os melhores equipamentos de treino e recuperação de lesão, voo fretado e os melhores hotéis e entra "meio desligado", como cantariam os Mutantes?
Uma vez, que seja, é humano. Deu coincidência de que cinco ou seis titulares entraram em campo pensando no filho doente ou mal no colégio, na discussão recente com a mulher, no conserto da torneira da cozinha que nunca termina, numa crise existencial inesperada, sei lá. Uma vez. Mas quatro? Cinco? Não, aí não. Nesta hora precisa agir quem dirige, do vestiário aos gabinetes.
Nas copas, o Inter está vivo e enfrenta adversários que lhe são superiores. O Flamengo, por óbvio, basta ver seu elenco e sua capacidade de investimento. O Fluminense, nem tão óbvio assim, mas validado por um confronto recente no Beira-Rio em que o time carioca sobrou para vencer de 2 a 0.
O problema é que o Inter precisará esforço máximo e concentração espartana para eliminar adversários tão poderosos e, em paralelo, não terá espaço ou margem para poupar jogadores nas partidas do Brasileirão que vierem imediatamente antes destes confrontos. Como preservar quem quer que seja estando com apartamento alugado no Z-4? Esta equação não vai fechar, o Inter se obrigará a enfrentar tudo de peito aberto.
Pelo que se joga
Se você que veste vermelho me perguntasse se acredito que o Inter corre risco de cair, eu diria, neste fim de semana de metade de junho, que não. Mas é uma crença, não uma certeza. Certeza eu tenho de que a candidatura colorada ao título de campeão brasileiro não existe mais. E o campeonato nem chegou à metade.
Então, antes de entrar julho, mês sete, segundo semestre, a torcida do Inter já sabe que toda vez que for ao Beira-Rio no Brasileirão será por um objetivo onde ser campeão já não consta do cardápio.
Os próximos 30 dias serão de férias e intertemporada. Voltarão jogadores essenciais, exceto Fernando, e talvez venham do mercado outros que possam agregar qualidade, embora a capacidade de investimento do Inter esteja pressionada por juros e juros de uma dívida imensa.
Há o risco real de perda de jogadores do tamanho de Vitão, por exemplo. Há uma encruzilhada das boas esperando o Inter logo ali.
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