
Personagem central da chamada trama golpista, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, vivenciou nesta segunda-feira (3) um momento simbólico. Ao retirar a tornozeleira eletrônica que o monitorava nos últimos meses, ele se aproxima das últimas etapas de restrições impostas pela Justiça.
Mas o preço que o militar decidiu pagar foi alto. Para obter os benefícios, virou persona non grata no Exército e no círculo de amizade que cultivava há décadas em torno do ex-presidente.
Enquanto Bolsonaro e ex-integrantes da cúpula de seu governo, incluindo militares de alta patente, foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a penas superiores a 20 anos pelo planejamento de um golpe de Estado, Mauro Cid teve a punição fixada em dois anos de reclusão em regime aberto.
Seus advogados entendem que este período já foi cumprido antes do julgamento, e solicitam agora à Justiça a retirada imediata de todas as restrições. Algumas cautelares ainda estão em vigor, como a proibição de deixar o país, portar armas e utilizar redes sociais.
Mauro Cid já manifestou a pessoas próximas a intenção de morar com familiares nos Estados Unidos. Sem clima entre os pares, também solicitou ao Exército transferência para reserva remunerada. Seria uma espécie de aposentadoria com remuneração proporcional ao tempo de serviço. O benefício ainda está sob análise.
A delação de Mauro Cid foi marcada por idas e vindas, chegou perto de ser anulada após ele revelar em áudios vazados que havia sido pressionado pelos investigadores, e até hoje provoca questionamentos das defesas dos outros réus. Diante de todo o contexto, no entanto, o resultado final do julgamento levou alívio ao tenente-coronel e seus familiares.
Os laços com a família Bolsonaro — iniciados há muitos anos pelo pai do tenente-coronel, o hoje general da reserva Mauro Lourena Cid — foram rompidos de vez. A pecha de traidor permanece viva entre vários amigos, e permanência no Exército ficou inviabilizada.
Mas, a partir desta segunda, Mauro Cid dormirá sem ter nada preso ao seu tornozelo. Enquanto isso, seu ex-chefe e outros superiores vivem o temor de terem a prisão decretada a qualquer momento.




