
A eleição do senador Fabiano Contarato (PT-ES) para a presidência da CPI do Crime Organizado foi resultado de uma ampla articulação política do governo federal. Nos últimos dias, o Palácio do Planalto intensificou negociações junto a lideranças partidárias para garantir o controle da comissão e evitar que o comando ficasse nas mãos da oposição - uma reação direta à derrota sofrida recentemente na composição da CPI mista do INSS.
A menos de um ano das eleições gerais, o Planalto avalia que há uma tentativa coordenada da oposição de atribuir ao governo a responsabilidade pelo avanço das facções criminosas no país. O tema ganhou peso político após a megaoperação no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos e ampliou o debate sobre segurança pública.
A disputa pelo comando da CPI foi acirrada. Contarato venceu por 6 votos a 5 o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), nome preferido da oposição. O resultado também refletiu o apoio do relator da comissão, Alessandro Vieira (MDB-SE), que desde o início do ano buscava instalar o colegiado, mas encontrava resistência entre os senadores.
Delegado de carreira, assim como Contarato, Vieira enxergou no parlamentar capixaba um aliado com perfil técnico e alinhado ao propósito inicial da CPI — o de propor soluções para enfrentar o crime organizado de forma estruturada e apartidária. Essa convergência foi determinante para consolidar a vitória do governo na eleição interna.
A primeira reunião da comissão, realizada nesta terça-feira (4), foi marcada por discursos que prometeram um trabalho técnico, transparente e focado em resultados práticos. Integrantes da CPI defenderam a cooperação entre os poderes e o fortalecimento das instituições de segurança pública.
Ainda assim, o clima político que cerca o colegiado desperta ceticismo no Congresso. Em reservado, os próprios senadores admitem que a pauta tende a ser contaminada pelo contexto eleitoral e pelas divergências entre forças políticas e policiais. Por tudo isso, é difícil acreditar que a CPI irá além de sugestões e relatórios que ficarão guardados na gaveta.



